quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Como o fracasso de X-Men: Fênix Negra pode prejudicar o futuro da 20th Century Fox


Bastou a Disney anunciar a surpreendente compra da Fox e das suas marcas para as dúvidas em torno do destino deste gigantesco estúdio tomarem forma. Se para uns a extinção deste poderoso selo era algo impensável, para os mais pessimistas a fusão poderia prejudicar bastante a autonomia da companhia fundada em 1935. Uma visão que, infelizmente, parece ter cada vez mais fundamento. E o retumbante fracasso de X-Men: Fênix Negra pode ter “acelerado” este processo. Com um robusto custo de produção de US$ 200 milhões, estima-se que com refilmagens e marketing o orçamento total tenha ficado na casa dos US$ 350 milhões, o longa dirigido por Simon Kinberg faturou frustrantes US$ 252 milhões ao redor do mundo. Um valor muito abaixo da média do Universo Mutante da Fox. Numa análise geral, os doze filmes da saga X-Men renderam juntos US$ 6,03 bilhões mundialmente, algo em torno de US$ 502 milhões por filme. Dark Phoenix (no original) é disparado a pior bilheteria entre os doze, ficando muito atrás dos US$ 778 milhões conseguidos recentemente por Deadpool 2 (2018) e dos US$ 619 milhões de Logan (2017). A marca mais rentável da Fox disparou o sinal de alerta na Disney. 


Embora neste primeiro momento nenhum executivo fale abertamente sobre a extinção da 20th Century Fox, os números iniciais são preocupantes. A partir de dados divulgados pela própria companhia, a Disney perdeu US$ 170 milhões com a fusão no terceiro trimestre do ano fiscal. Isso representa uma queda de 3% nas ações com perda de 39% nos lucros deste período. Um prejuízo que pode até parecer irrisório diante do triunfo bilionário de produções como Vingadores: Ultimato, O Rei Leão e Aladdin. Mas o estúdio não está interessado em perder. CEO da Disney, Bob Iger foi categórico ao estabelecer os motivos por trás do resultado negativo. “Um dos maiores problemas foi a performance dos estúdios da Fox, que foi bem abaixo do que era e bem abaixo do que esperávamos quando fizemos a compra”, revelou o executivo. Segundo ele, a ideia agora é reduzir o número de lançamentos da Fox e focar naquilo que faça jus as expectativas da Disney. “Um seleto grupo de propriedades”, disse Iger. Enquanto marcas como os X-Men e o Quarteto Fantástico serão gradativamente absorvidas pela Marvel Studios, a companhia tem muito interesse em franquias como Avatar, Esqueceram de Mim e Planeta dos Macacos. O que, de fato, deve manter a 20th Century Fox em atividade.


Preocupa, porém, em que condições o importante estúdio seguirá atuando. Se com liberdade para criar? Ou sob a pesada supervisão da Disney? Em meio ao processo de compra, na verdade, a própria Fox já havia colocado o pé no freio. Em 2019, por exemplo, a companhia fechará o ano com apenas 10 lançamentos (entre eles os ainda aguardados Ad Astra e Ford Vs Ferrari), contra 12 de 2018, 14 de 2017 e 16 de 2016. Para 2020, de acordo com o calendário da Fox, estão previstos outros 10 lançamentos, entre eles The King’s Man, a incógnita chamada Novos Mutantes, A Morte no Nilo e o remake de West Side Story. Especula-se, inclusive, que alguns dos lançamentos agendados poderiam ser lançados diretamente no Disney +, algo que até faria sentido na tentativa de reduzir o potencial prejuízo em torno de alguns destes projetos.  Em entrevista a Variety, no entanto, Bob Iger optou por tentar manter o otimismo e segue trabalhando com a ideia que a Disney e a Fox possam coexistir harmoniosamente. "Estamos todos confiantes de que poderemos recuperar o sucesso da Fox e se verá esses resultados daqui a alguns anos". Segundo o THR, a Blue Sky Studios, divisão de animação da Fox, será mantida e co-presidida por Andrew Millstein, atual comandante da Walt Disney Animations. Especula-se que a companhia criadora de A Era do Gelo e Rio irá gerar conteúdo específico para o Disney +.


Um esforço que, a meu ver, deveria ser uma prioridade dentro da Disney. Uma das gigantes de Hollywood, a 20th Century Fox é uma companhia de vanguarda. O que seria da cultura pop sem Star Wars, uma das inúmeras “apostas” lançadas pelo estúdio que fizeram história. Na virada dos anos 2000, a Fox revolucionou o universo dos filmes de super-heróis com X-Men (2000), a produção que mudou o estado das coisas dentro do gênero. Tivemos ainda o filme evento Avatar (2008), marcas do porte de Planeta dos Macacos, Independence Day, Duro de Matar, A Era do Gelo e Como Treinar o Seu Dragão. Isso para não citar a trajetória do braço independente do estúdio, a Fox Searchlight, com os seus “oscarizados” A Pequena Miss Sunshine (2006), Juno (2007), Quem Quer Ser um Milionário (2008), Cisne Negro (2010), 127 Horas (2010) e os recentes Três Anúncios para um Crime (2018) e A Favorita (2019). Hoje, com a derrocadas de marcas como a MGM e a United Artists, restaram no "tabuleiro" dos grandes estúdios a Disney\Buena Vista (com 26% do market share em 2018 nos EUA), a Fox (com 9,1%), a Warner Bros (com 16,3%), a Universal (com 14,9%), a Paramount (com 6,4%) e a Sony\Columbia (com 10,9%).

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