segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Quinze Grandes Filmes sobre Amadurecimento


Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Lady Bird: É Hora de Voar (leia a nossa opinião aqui) esbanja propriedade ao traduzir a difícil missão que é amadurecer. Usando parte das suas próprias experiencias, a talentosa Greta Gerwig cativa ao imprimir um realismo naturalmente reconhecível aos olhos do público, expondo o quão tênue pode ser a linha entre a expectativa e a realidade diante de decisões tão importantes. Muito mais do que um requentado 'coming age movie', o longa estrelado por Saiorse Ronan encanta ao desmistificar alguns anseios tipicamente juvenis, refletindo sobre o ímpeto e a precocidade ao acompanhar os passos em falsos de uma "pré-adulta" com vislumbres cosmopolitas. Lady Bird, porém, é "apenas" mais um grande filme dentro deste segmento. Ao longo das últimas décadas, inclusive, diretores do quilate de John Hughes, Richard Linklater, Noah Baumbach, Cameron Crowe e John Singleton usaram o cinema para refletir sobre os dilemas das suas respectivas gerações, nos brindando obras definitivas sobre o tema. Com a estreia de Lady Bird, no Cinemaniac listamos quinze outros grandes filmes sobre amadurecimento. 

- Conta Comigo (1986) 


Indo de encontro ao viés descolado\irreverente das obras de John Hughes, Conta Comigo se voltou para o coração da América ao reproduzir a aventura de um grupo de amigos em busca do amadurecimento. Impulsionado pelas fantásticas atuações dos astros infantis River Phoenix e Corey Feldman, o talentoso realizador norte-americano traduziu os anseios de uma geração comum com extrema sensibilidade, pontuando a trama com memoráveis diálogos envolvendo a busca por reconhecimento, o medo do futuro e a difícil missão que é crescer. Na trama, cansados de serem tratados como crianças, um grupo de quatro amigos resolve mostrar a sua importância e partem numa reveladora jornada à procura do corpo de um garoto morto em um acidente. Recheado de sequências marcantes, como não lembrar, por exemplo, da cena das sanguessugas, Conta Comigo deu voz a uma geração que não queria somente se divertir. 

- Frances Ha (2013) 


Filmado totalmente em preto e branco, Francis Ha (leia a nossa opinião aqui) é um daqueles longas que ainda teimam, felizmente, em nadar contra a corrente. Não só pela estética visual e narrativa, mas também pelo conteúdo apresentado. Fugindo de toda a abordagem clichê que passou a imperar no gênero, o longa dirigido por Noah Baumbach (A Lula e a Baleia) é criativo ao narrar a velha dificuldade em amadurecer dentro da sociedade atual. Para isso, ele aposta no talento de Greta Gerwig enquanto atriz, usando o seu indiscutível magnetismo ao mostrar uma mulher adulta relutante quanto a sua independência. Ao contrário da maioria dos filmes desta lista, em Frances Ha vemos uma aspirante à dançarina imatura e errática disposta a seguir abraçando um estilo de vida tipicamente juvenil. Um filme cult refinado e encantador. 

- Quase 18 (2017) 


Trilhando um caminho aberto por nomes como Jennifer Lawrence, Emma Stone, Brie Larson e Margot Robbie, Hailee Steinfeld (Mesmo se Nada der Certo) desponta como um dos mais promissores nomes da sua geração. Lançada pelos cultuados Irmãos Coen no magnífico Bravura Indômita (2010), a jovem atriz tem buscado desde então um "espaço" no concorrido gênero blockbuster, mas o seu talento seguiu sendo mais bem explorado nas mãos de realizadores reconhecidos por sua autoralidade. Como podemos perceber no seu mais recente trabalho, o adorável Quase 18 (leia a nossa opinião aqui). Uma mistura moderna de Clube dos Cinco (1985) com A Garota de Rosa Shocking, o longa dirigido por Kelly Freemon Craig (Recém-Formada) homenageia o saudoso John Hughes ao utilizar o universo 'high-school' para investigar as agruras de uma adolescente em crise. Sob um ponto de vista deliciosamente irônico, a realizadora enche a tela de energia ao traduzir a inquietude, a imaturidade e o egocentrismo de uma geração que parece viver num mundo de aparências, uma realidade "ensolarada" e vazia frequentemente exposta nas inúmeras páginas do Instagram. Assim como Hughes se acostumou a fazer, entretanto, Craig não parece interessada em julgar\criticar um grupo específico de jovens, tal qual uma mãe ruidosa e autoritária faria. Na verdade, a diretora se encanta pela incoerência da sua protagonista, pela sua faceta mais humana, o que faz de Quase 18 um relato cativante e extremamente universal. 

- Jovens, Loucos e Rebeldes (1993) 


Um precioso retrato de uma geração, Jovens, Loucos e Rebeldes (leia a nossa opinião aqui) cativa ao desvendar os anseios e dilemas de um grupo de jovens no final da década de 1970. Inserido num contexto sociopolítico bem particular, o longa dirigido por Richard Linklater adota uma pegada naturalista ao acompanhar o primeiro dia das últimas férias de verão de uma turma de adolescentes no limiar da vida adulta. Com um elenco recheado de rostos conhecidos, entre eles os de Matthew McConaughey, Milla Jovovich, Ben Affleck, Parker Posey e Adam Goldberg, a comédia com toques existenciais passeia por temas extremamente densos sem perder a energia e o bom humor. Impulsionado pelos afiados diálogos e pela fantástica trilha sonora, Jovens, Loucos e Rebeldes merece ser considerado um daqueles filmes definitivos sobre a juventude. Um relato vibrante sobre os primeiros contatos com os fantasmas da vida adulta. 

- Boyhood: Da Infância a Adolescência (2014) 


Rodado ao longo de doze anos, Boyhood - Da Infância a Juventude (leia a nossa opinião aqui) é um daqueles magníficos 'coming age movies' que merecem ser apreciados. Acompanhando o crescimento do ator Ellar Coltrane dos 6 aos 18 anos, opção que inegavelmente atribui uma aura de raridade ao projeto, o diretor Richard Linklater foge completamente dos clichês ao narrar a jornada de amadurecimento do jovem Mason. Ao longo das fluidas 2 h e 40 de projeção, o realizador nos surpreende ao não só se concentrar neste retrato maduro e cativante sobre uma família norte-americana, mas por se preocupar em nos guiar através das mudanças culturais, políticas e comportamentais que também marcaram este período. Na contramão dos grandes blockbusters, produzidos em escala quase industrial por Hollywood, Linklater usa o tempo como um aliado estético e narrativo, se apropriando com primor das noções de passado, presente e futuro. Indiscutivelmente, o ato de crescer nunca foi acompanhando sob um prisma tão íntimo e real. 

- Clube dos Cinco (1985) 


Em Clube dos Cinco, John Hughes desconstrói os estereótipos do gênero ao traduzir os anseios e dilemas de um grupo de jovens obrigados a se reunir numa detenção pós-aula. Num primeiro momento, o realizador norte-americano parece construir uma daquelas típicas comédias adolescentes. Afinal de contas, temos o galã atlético (Emilio Estevez), a patricinha recatada (Molly Ringwald), o nerd deslocado (Anthony Michael Hall), o rebelde misterioso (Judd Nelson) e a ‘looser’ esquisitona (Ally Sheedy). À medida que a trama avança, no entanto, percebemos que por trás destes arquétipos existem personalidades mais complexas. O atleta não é tão confiante assim, a mimada não se revela tão fútil quanto parece, o rebelde esconde na hostilidade a sua fragilidade, o nerd é mais carismático do que a maioria pensava e a gótica guarda uma beleza que ninguém ainda tinha percebido. Através de diálogos existências e momentos genuinamente adolescentes, John Hughes sintetiza com a sua reconhecia habilidade o turbilhão de emoções enfrentado pelos jovens na transição da adolescência para a fase adulta, nos brindando com uma comédia dramática profunda e preciosa. Um verdadeiro clássico cult. 

- Amor Bandido (2013) 


Um dos filmes mais surpreendentes de 2013, Amor Bandido (leia a nossa opinião aqui) possui os requisitos básicos para colocar o nome do jovem diretor Jeff Nichols entre os mais promissores diretores da atualidade. Apesar de lidar com a inocência e uma certa pureza sentimental, o longa é de uma maturidade ímpar ao narrar um complexo caso de amor. Sem se apegar a estereótipos, Nichols explora de forma original todas as ilusões, dúvidas e as certezas que acabam cercando, de maneira geral, os relacionamentos. Sejam eles amorosos ou genuinamente fraternais. E isso sob o inocente prisma dos jovens, Tye Sheridan e Jacob Lofland, dois amigos inseparáveis que conseguem tirar inspiradoras lições de vida desta complexa relação. 

- O Verão da Minha Vida (2013) 


O genérico título brasileiro pode assustar, mas O Verão de Minha Vida (leia a nossa opinião aqui) não é mais uma daqueles típicos filmes de férias concebidos para reinarem na "sessão da tarde". Dirigido e roteirizado pela dupla Jim Rash e Nat Faxon, vencedores do Oscar com a trama de Os Descendentes, a comédia dramática se apoia em interessantes personagens para debater sobre o processo de amadurecimento dentro da juventude. Contando com um inspirado desempenho de Sam Rockwell, o longa evita se levar muito a sério, e através de uma original atmosfera mostra as consequências que um relacionamento equivocado na vida de um inseguro jovem de 14 anos. Com o talentoso Liam James na pele de um apático jovem inconformado com a sua situação, o longa discorre sobre temas bem comuns a sua geração, transitando habilmente entre o drama e a comédia numa obra sensível e atual. 

- Quase Famosos (2000) 


Inspirado nas memórias do próprio diretor, o talentoso Cameron Crowe, Quase Famosos encanta ao acompanhar a curiosa jornada de um garoto diante do seu sonho. Com Patrick Fugit na pele de um adolescente aspirante à jornalista que, após algumas mentirinhas, é convidado para cobrir a turnê de uma popular banda de rock, o realizador enche a tela de sensibilidade ao traduzir o amadurecimento do jovem dentro de um ambiente reconhecidamente imaturo. Embalado por clássicos do rock, o longa é cuidadoso ao capturar o vínculo entre os personagens, ao refletir sobre os dilemas de um garoto que, mesmo diante de uma situação inusitada, seguia sendo um garoto, um adolescente tímido obrigado a enfrentar o mundo real. 

- As Vantagens de Ser Invisível (2012) 


Adaptação do best-seller assinado por Stephen Chbosky, As Vantagens de Ser Invisível é um daqueles trabalhos que prometem marcar uma geração. Dirigido pelo próprio Chbosky, o longa ganhou - inicialmente - um grande destaque por ser o primeiro grande desempenho de Emma Watson fora da franquia Harry Potter. Se engana, porém, que acredita que este é o único mérito do longa. Numa incrível adaptação da obra literária, o filme estrelado por Logan Lerman (Percy Jackson) e Ezra Miller (Precisamos Falar sobre Kevin) narra a história de Charlie, um jovem introspectivo que não consegue seu espaço. Com os nervos a flor da pele, o jovem parece próximo de ter um colapso. A vida dele ganha um novo rumo, no entanto, quando ele conhece dois carismáticos amigos: o extrovertido Patrick (Ezra Miller) e a afetuosa Sam (Emma Watson). Os dois então acabam proporcionando uma série de novas experiências a vida de Charlie, incluindo ai uma complicada paixão à primeira vista. Com uma excelente trilha sonora, destaque para a marcante cena ao som Heroes, de David Bowie, As Vantagens de Ser Invisível é uma obra indispensável para os fãs do gênero. 

- Os Donos da Rua (1991) 


Em meio a tantos filmes sobre o amadurecimento, entretanto, poucos, bem poucos, se preocuparam em traduzir a situação do afro-americano. Referência dentro do segmento, Os Donos da Rua injetou peso ao gênero ao narrar as desventuras de um trio de amigos num cenário marcado pela desigualidade e a injustiça social. Com personagens marcantes, o longa dirigido por John Singleton colocou o dedo na feria ao reproduzir alguns dos dilemas mais rotineiros desta geração, refletindo sobre a violência, a falta de oportunidades e a crise na educação com enorme propriedade. Impulsionado pelas excelentes atuações de Laurence Fishburne, Morris Chestunut, Ice Cube e Cuba Gooding Jr., Os Donos da Rua segue se revelando um 'coming age movie' atual e questionador. 

- Sociedade dos Poetas Mortos (1989) 


Com Robin Williams em sua versão inspiradora, A Sociedade dos Poetas Mortos é um drama comovente sobre um professor nada ortodoxo que resolve abalar as estruturas de uma turma de um conservador internato para meninos. Singelo e inteligente, o longa dirigido por Peter Weir se volta para a literatura ao investigar os dilemas e anseios de um grupo de jovens reprimidos dentro de uma instituição tradicionalíssima. Recheado de diálogos marcantes e momentos singulares, o realizador é corajoso ao investigar as consequências de tamanha pressão familiar e levanta uma bandeira em prol da liberdade de expressão e da precocidade imposta dentro de uma sociedade sedenta por pessoas bem-sucedidas. Trazendo no elenco Ethan Hawke, Robert Sean Leonard, Allelon Ruggiero e Gale Hansen, A Sociedade dos Poetas Mortos é um filme singelo e memorável. 

- Eu, Você e a Garota que Vai Morrer (2016) 


Um prato cheio para os cinéfilos de plantão, Eu, Você e a Garota que Vai Morrer (leia a nossa opinião aqui) se revela um drama juvenil virtuoso, honesto e absolutamente relevante. Conduzido com vigor estético pelo promissor Alfonso Gomez-Rejon (Glee), o longa absorve elementos do cinema independente ao narrar uma sensível e agridoce história de amizade e amadurecimento. Indo além das inspiradas e nada óbvias referências à sétima arte, a película se esquiva dos melodramas ao transitar por temas naturalmente espinhosos, encontrando no carismático elenco a maturidade necessária para dar corpo a este leve e apaixonante relato sobre as dores da juventude. 

- Desligando Charleen (2014)


Embora transite por temas espinhosos, entre eles o suicídio na adolescência, Desligando Charleen encanta ao trata-los sob uma perspectiva ingênua e propositalmente incoerente. Com personagens carismáticos, um elenco entrosadíssimo e uma roupagem visual criativa, o longa alemão dirigido por Mark Monheim envolve ao acompanhar os passos da inquieta Charleen, uma garota com apreço pela morte que, após uma desastrada tentativa de suicídio, passa a ter que enfrentar as consequências dos seus atos. Sem nunca julgar a imatura protagonista, o roteiro assinado pelo próprio Monheim, ao lado de Martin Rehbock, é cuidadoso ao expor a face mais impertinente da jovem, ao revelar as suas frustrações, os seus anseios e as suas contraditórias atitudes. Numa abordagem indiscutivelmente original, o realizador encontra na enérgica performance de Jasna Fritzi Bauer a inquietude necessária para traduzir o desconforto juvenil. Nas entrelinhas, porém, o argumento se esquiva das soluções fáceis ao ampliar o escopo da trama, ao mostrar também a imaturidade dos adultos, ao revelar a disfuncionalidade de uma família marcada pela precocidade. Recheado de sequências cativantes, o longa surpreende ao levantar questões tão complexas sob um prisma irônico e inteligente. Mesmo se rendendo às respostas mais convencionais dentro do singelo último ato, Monheim embala a trama com diálogos espertos e cenas inspiradas, extraindo o máximo do talentoso elenco de apoio ao reforçar o elo entre os personagens e a sinceridade presente no texto. Dito isso, com uma divertida pegada 'indie', Desligando Charleen se revela um pequeno e belo representante do gênero 'coming age movie'. 

- Livre (2014) 


Aclamado por seu trabalho no drama Clube de Compras Dallas, Jean-Marc Valée (A Jovem Rainha Vitória) mostra novamente em Livre (leia a nossa opinião aqui) toda a sua capacidade em adaptar histórias reais. Narrando a edificante jornada de redescoberta (e porque não de amadurecimento) de uma mulher que perdeu o rumo de sua própria vida, o realizador canadense encontra em Reese Witherspoon toda a energia e a entrega física necessária para escapar dos clichês envolvendo o "sexo frágil". Explorando com habilidade a marcante feminilidade e beleza da atriz, que se torna uma impecável ferramenta para evidenciar os muitos altos e baixos da vida desta personagem, Valée faz da indicada ao Oscar a grande força motora deste longa. Ainda assim, apesar da complexa personagem segurar - literalmente - o filme nas costas, a "mochila" de Reese Witherspoon fica mais leve graças a esperta montagem, a belíssima fotografia e a capacidade deste realizador em tirar o máximo dos seus comandados.

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