terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Cinemaniac Indica (Ode ao Meu Pai)

Uma espécie de Forrest Gump sul-coreano, Ode ao Meu Pai é um filme curioso. Segunda maior bilheteria da história do seu país, o longa dirigido por JK Youn flerta com alguns excessos bem tradicionais no cinema asiático. É um filme melodramático, por vezes piegas, mas que cativa ao dar uma conotação fortemente humana a uma premissa naturalmente épica. Com pureza e um tom nitidamente familiar, o filme desvenda o doloroso passado de Duk-soo (Jung-min Hwang, excelente até mesmo como um idoso) um senhor irritadiço que lutou durante toda a sua vida para sustentar a sua mãe e irmãos. Após uma tragédia pessoal durante a Guerra da Coréia, ele precisou assumir as rédeas de sua família na adolescência, abrindo mão dos seus sonhos na tentativa de oferecer para eles aquilo que o seu querido pai não conseguiu. 



Ainda que sob um prisma ingênuo e otimista, Ode ao Meu Pai instiga ao acompanhar os passos deste resiliente protagonista, utilizando o seu sofrido ponto de vista para expor as consequências da Guerra da Coreia na vida dos sobreviventes. Embora subaproveite algumas questões naturalmente densas, JK Youn é habilidoso ao potencializar a humanidade dos seus personagens, a relação deles com este passado trágico, permitindo que o espectador crie uma sincera conexão com eles. Despretensioso quanto aos assuntos políticos, que pontuam a trama apenas para contextualizar a ação, o realizador é cuidadoso ao realçar o vínculo do protagonista com a sua família, a sua relação de cumplicidade com a bela Youngja (a Sun de Lost) e o seu fiel amigo Dal-Gu (Dal-su Oh, divertidíssimo).


Com uma envolvente narrativa não linear, o argumento assinado por Soo-jin Park é igualmente habilidoso ao costurar o passado e o presente com leveza, revelando os feitos de Duk-Soo com energia e uma generosa dose de sentimentalismo. Curiosamente, porém, mesmo nestes momentos mais melodramáticos, o longa não chega a incomodar, justamente pela pureza com que traduz os anseios e os percalços dos protagonistas. Na transição do segundo para o último ato, inclusive, JK Youn parece segurar as rédeas na emoção, se esquivando dos exageros ao compor um clímax tocante e intimista. Sem querer revelar muito, a cena final é de uma sutileza ímpar e contrasta com a abordagem expansiva do restante da película.


Além disso, Ode ao Meu Pai é um drama que impressiona também pelo seu caprichado apuro estético. No melhor estilo Forrest Gump, o realizador mostra categoria ao compor as sequências grandiosas, reproduzindo alguns episódios reais em cenas críveis e naturalmente tensas. Em alguns destes momentos dramáticos, porém, JK Youn falha ao não explorar o potencial destas situações, reduzindo o impacto de parte das cenas ao se render a soluções piegas e convenientes. Por fim, com um elenco entrosado, sequências inesperadamente engraçadas e uma honestidade que nos faz relevar os excessos e os deslizes do longa, Ode ao Meu Pai é um agridoce drama que cativa ao valorizar o sentimento dos seus carismáticos personagens.

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