Valeu Netflix!
Após os excelentes O Orfanato (2007) e Os Olhos de Julia (2010), o
Cinema Espanhol volta a nos presentear com um suspense de altíssimo nível no
instigante El Cuerpo (2012). Um prato cheio para os fãs deste segmento
cinematográfico, o longa dirigido e roteirizado por Oriol Paulo cumpre alguns
dos mais importantes pré-requisitos do gênero ao construir uma trama sustentada
pela latente atmosfera de tensão, pelos enigmáticos personagens e pelas bem
arquitetadas reviravoltas. Apesar das óbvias referências ao cinema
"Hitchcockiano", o realizador europeu adiciona um tempero latino a
esta mistura ao flertar com temas mais passionais, entre eles a infidelidade e
a crise matrimonial, intrigando o espectador aos desvendar os segredos por trás
do misterioso desaparecimento de um corpo. Em suma, mesmo diante de alguns
excessos narrativos, El Cuerpo é um dos raros suspenses que consegue
surpreender. E isso pode ser considerado um artigo de luxo dentro da atual
safra de produções hollywoodianas.
Com agilidade e apuro estético, Oriol Paulo é habilidoso ao consolidar
num primeiro momento o tão precioso clima de mistério. Antes mesmo do 'start'
da trama, o realizador transforma o cenário central, uma espécie de IML
espanhol, num lugar sombrio e ameaçador. Amparado pela elegante fotografia de
Oscar Faura (O Jogo da Imitação), Paulo faz um excelente uso deste vasto e
desconfortável ambiente, explorando com astúcia elementos como os soturnos
corredores, o gélido necrotério e as incômodas salas de interrogatório. Somado
a isso, o diretor é igualmente perspicaz ao trabalhar com alguns efeitos
clássicos do gênero, entre eles a insistente chuva, os reluzentes raios, os
barulhentos trovões e as constantes quedas de luz, ampliando a imersão do
público ao investir em repentinos efeitos sonoros, em pontuais 'jumpscares' (os
populares sustos inesperados) e na envolvente trilha de Sergio Moure. Uma
mistura de recursos que só contribui para a crescente aura de suspense em torno
do 'mise en scene' proposto pelo longa.
Com os seus segredos bem protegidos ao longo das envolventes 1 h e 45 min, El Cuerpo acompanha as desventuras de Álex Ulloa (Hugo Silva, impecável), um viúvo abalado pela recente morte da sua esposa, a bem sucedida Mayka Villaverde (Belén Rueda, vigorosa como de costume). Aparentemente desolado, ele é pego de surpresa ao receber o telefonema do policial Jaime Peña (José Coronado, brilhante ao capturar o ar reprimido do seu personagem), um veterano detetive que é chamado às pressas para solucionar um inusitado crime: o misterioso sumiço do corpo da empresária dentro do necrotério. Sem tempo a perder, Peña inicia assim uma reveladora investigação, desvendando as intenções dos envolvidos ao perseguir os "fantasmas" por trás deste inesperado roubo.
Com os seus segredos bem protegidos ao longo das envolventes 1 h e 45 min, El Cuerpo acompanha as desventuras de Álex Ulloa (Hugo Silva, impecável), um viúvo abalado pela recente morte da sua esposa, a bem sucedida Mayka Villaverde (Belén Rueda, vigorosa como de costume). Aparentemente desolado, ele é pego de surpresa ao receber o telefonema do policial Jaime Peña (José Coronado, brilhante ao capturar o ar reprimido do seu personagem), um veterano detetive que é chamado às pressas para solucionar um inusitado crime: o misterioso sumiço do corpo da empresária dentro do necrotério. Sem tempo a perder, Peña inicia assim uma reveladora investigação, desvendando as intenções dos envolvidos ao perseguir os "fantasmas" por trás deste inesperado roubo.
Com uma premissa naturalmente instigante em mãos, Oriol Paulo mostra
categoria ao arquitetar o imersivo primeiro ato. Rodado praticamente dentro do
necrotério, o argumento introduz este quebra-cabeça com inteligência e
objetividade, estabelecendo já na meia hora inicial as intenções, os traumas e
as nuances dos enigmáticos protagonistas.
À medida que os fatos começam a surgir em cena, no entanto, o realizador
espanhol não mostra a mesma maturidade narrativa. Na ânsia de se aprofundar nos
conflitos dos personagens, Paulo opta por fazer um exagerado uso do recurso do
flashback, o que não só trunca o ritmo do segundo ato, como também nos afasta
inadvertidamente do clima de tensão do IML. Por mais que a maioria destas cenas
sejam decisivas para a construção do imprevisível último ato, em alguns
momentos o diretor decide manipular o espectador através de pistas falsas,
inflando uma história que poderia ser brilhantemente resolvida com dez ou
quinze minutos a menos. Na hora H, porém, Oriol Paul recoloca a trama nos
trilhos e, a partir das pistas mais sutis, constrói uma reviravolta final
intensa e surpreendente. Apesar do dispensável tom didático, o roteiro conecta
as pontas soltas com rara inspiração, nos brindando com um desfecho plausível e
totalmente coerente com a proposta passional defendida pelo longa. Confesso que
tentei encontrar as falhas, não fiquei convencido logo de cara, mas com o subir
dos créditos percebi que a peças se encaixavam de maneira inesperadamente
harmoniosa.
Impulsionado pelo entrosamento do talentoso elenco, impecável ao
proteger a aura de mistério em torno dos seus respectivos personagens, El
Cuerpo resgata o cinismo dos clássicos de Alfred Hitchcock ao se revelar uma
película tensa e bem resolvida. Ainda que não esteja livre dos problemas, o
diretor Oriol Paulo é zeloso tanto com as reviravoltas narrativas, quanto com a
construção visual, o que fica evidente quando nos deparamos com um suspense
deste quilate, uma obra genuinamente tensa e refinada.
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