Como é bom ser surpreendido com um excelente filme. Indicado ao Globo de Ouro na categoria Melhor Comédia ou Musical, Orgulho é Esperança é uma película completa e indispensável. Conduzido com extrema sensibilidade pelo desconhecido Matthew Warchus, o longa propõe uma poderosa mensagem de integração sem abdicar do entretenimento, investindo numa abordagem repleta de sentimentos ao narrar um episódio no mínimo curioso envolvendo o movimento sindical britânico. Transitando do humor ao drama com enorme precisão, o realizador passeia por uma série de espinhosos temas com enorme espontaneidade, escancarando alguns dos mais enraizados preconceitos ao acompanhar os bastidores da união entre um determinado grupo de ativistas LGBT e um pacato sindicato de mineradores galeses.
Indo além dos fatos históricos, Orgulho e Esperança é categórico ao absorver os dilemas de dois grupos totalmente distintos. Assinado por Stephen Beresford, o argumento é sucinto ao traduzir conflitos tão contrastantes, permitindo que o espectador tome conhecimento não só da crise financeira enfrentada pelos grevistas mineiros durante parte da década de 1980, como também enxergue a intolerância e o conservadorismo da sociedade britânica no que diz respeito a causa LGBT. Apesar da pluralidade de temas, o roteiro esbanja sensibilidade ao investigar as nuances comportamentais de cada um dos protagonistas, sejam eles membros de uma comunidade de simpáticos galeses, sejam eles parte de uma associação de indomáveis jovens homossexuais, encontrando neste "choque cultural" os ingredientes necessários para a construção de um relato inspirador e absolutamente atual.
Na trama, cansados da opressão policial, o grupo LGBT liderado pelo independente Mark (Ben Schnetzer) resolve manifestar o seu apoio a greve dos mineradores britânicos. Após recolherem uma considerável quantia em donativos, os jovens londrinos são pegos de surpresa ao se deparar com a recusa da maior parte dos conservadores sindicatos locais. Incomodado com a situação, Mark resolve entrar em contato com o compreensivo Dai (Paddy Considine), o porta voz de um pequena associação de mineradores galeses. Sem temer a reação negativa, ele resolve aceitar a colaboração de Mark e seus amigos, incluindo o introvertido Joe (George MacKay), a rebelde Steph (Faye Marsay) e o alto astral Jonathan (Dominic West). Inicialmente desconfortáveis com tal parceria, os moradores da pequena cidade galesa não demoram muito para enxergar a realidade por trás dos preconceitos, iniciando assim uma poderosa e inesperada relação de amizade e troca de experiências.
Com uma série de subtramas em mãos, Matthew Warchus é habilidoso ao investigar os pré-conceitos (no mais pleno sentido da expressão) por trás da causa LGBT. Por mais que se renda a dispensável figura do antagonista, uma unidimensional dona de casa conservadora (bem) interpretada por Lisa Palfrey, o realizador se esquiva das fórmulas fáceis ao analisar este choque de realidades sob um prisma humano e comprometido. Mesmo nos arcos mais breves, como no drama familiar enfrentado pelo contido Gethin (Andrew Scott), é possível sentir a conexão, a cumplicidade e o carinho entre os personagens, o que torna esta crescente história de amizade naturalmente adorável aos olhos do público. Nesse sentido, aliás, é interessante ver o cuidado do realizador na construção dos momentos mais cômicos. Com um sarcasmo tipicamente britânico, Warchus arranca sinceras risadas ao acompanhar a troca de experiências entre duas gerações tão distintas, principalmente com a curiosa idosa interpretada por Menna Trussler, permitindo que o espectador se divirta com esta improvável união sem apelar para os clichês estereotipados. Quando necessário, no entanto, o diretor esbanja sutileza ao traduzir também os temas mais dramáticos. Ainda que nas entrelinhas, Warchus é cuidadoso passear por questões espinhosas dentro do universo LGBT, entre elas a intolerância, o 'boom' do HIV e o conservadorismo da sociedade britânica, construindo uma série de sequências comoventes e reflexivas.
Impulsionado pelo eclético elenco, que, numa mistura magnética, equilibra a energia dos jovens Ben Schnetzer (impecável como o idealista Mark), George MacKay (intenso como o temeroso Joe) e Jessica Gunning (fantástica como a carismática Sian), com a vitalidade dos experientes Bill Nighy (como sempre versátil como o contido Cliff), Imeulda Stanton (vibrante como a indomável Hefina) e Paddy Considine (sincero como o compreensível Dai), Orgulho e Esperança se revela uma comédia dramática poderosa, revigorante e absolutamente integradora. Um filme capaz de nos fazer rir, emocionar e, acima de tudo, nos mostrar a importância do respeito às diferenças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário