sábado, 30 de maio de 2015

Terremoto - A Falha de San Andreas

Carisma de Dwayne Johnson e espetaculares efeitos digitais salvam o longa dos inúmeros clichês

Seguindo um caminho pavimentado por longas como Terremoto (1974), Armagedom (1998), O Dia depois de Amanhã (2004) e 2012 (2009), Terremoto - A Falha de San Andreas é mais um dos filmes catástrofes a colocar o drama familiar no epicentro de um avassalador desastre natural. Usando e abusando dos clichês do gênero, que pontuam desastradamente o problemático roteiro, o longa dirigido pelo inexperiente Brad Peyton (Viagem 2 - A Ilha Misteriosa) encontra a sua força não só nos espetaculares e sufocantes efeitos especiais, mas também na entrega do elenco, capitaneado pelo carismático Dwayne "The Rock" Johnson, pelo competente Paul Giamatti (Mandando Bala) e pela estonteante Alexandra Daddario (Percy Jackson). Em meio às altas doses de tensão impostas por tamanha destruição, no entanto, este divertido e descompromissado blockbuster acaba sofrendo diante da falta de ousadia narrativa, que peca - principalmente - ao substituir o altruísmo pelo sentimentalismo.

Trabalhando habilmente a atmosfera de tensão, que permeia ferozmente o argumento em meio ao show de resgates aéreos, terremotos, tsunamis e desabamentos, Brad Peyton é preciso ao construir o aspecto estético do seu longa. Contando com sensacionais efeitos visuais, dignos de uma projeção em 3-D e se possível em IMAX, o realizador canadense se esforça para encontrar nos efeitos digitais uma forma de amenizar os equívocos presentes no claudicante roteiro. Na trama, assinada por Carlton Cuse (Bates Motel), conhecemos Ray (Johnson), um respeitado bombeiro especializado em resgates aéreos. Ainda abalado por uma tragédia familiar, ele vê a sua situação piorar quando a sua ex-esposa (Carla Gugino) resolve exigir a assinatura dos papéis do divórcio e iniciar uma nova relação com um milionário engenheiro (Ioan Gruffudd). O seu único conforto residia no carinho pela filha, a determinada universitária Blake (Daddario). Durante a viagem da jovem para São Francisco, no entanto, um terremoto de grandes proporções atinge parte dos EUA, colocando em perigo todos os grandes amores de Ray. Disposto a salvar a vida das duas mulheres de sua vida, o piloto parte então numa jornada de vida ou morte, enfrentando uma série de desastres naturais para recuperar a sua família.

Caprichando nas grandiosas sequências de ação, Califórnia e São Francisco sofrem das mais diversas maneiras nas mãos de Brad Peyton, o longa deixa uma ótima impressão no competente primeiro ato. Desde a intensa sequência de abertura, quando Ray e sua equipe agem num vertiginoso resgate nas montanhas, o argumento é envolvente ao se dividir em três linhas narrativas distintas, acompanhando de perto não só a frustração do bombeiro diante do iminente divórcio, mas também a viagem de Blake junto do padrasto e o esforço do dedicado cientista Lawrence (Giamatti) para conseguir mapear possíveis abalos sísmicos. Sem perder muito tempo com papo furado, não demora muito para que o espetáculo visual ganhe forma com o primeiro terremoto, preparando o caminho para duas sequências absolutamente fantásticas. Na verdade, tanto a comovente sequência sobre a represa Hoover, quanto o resgate aéreo em pleno terremoto são dois dos pontos mais altos do longa, rendendo momentos genuinamente angustiantes. A partir daí, porém, o roteiro parece desmoronar cena após cena. Abrindo mão do espirito altruísta em torno da equipe de resgate, que some do filme com a mesma velocidade que surge, a trama opta por se concentrar nas questões micro, utilizando a devastação como um mero instrumento de diversão visual. Pra ser bem sincero, a impressão que fica é que alguns resgates a mais não fariam mal algum ao filme.


Mesmo não se esquecendo do lado humano por trás da tragédia, que ganha contornos respeitosos quando Peyton resolve mostrar com realismo o rastro de destruição deixado pelos terremotos, o argumento parece mais interessado em se prender aos requentados dramas familiares de Ray. Em meio a diálogos frágeis e aos muitos clichês, com destaque para a descartável figura do covarde antagonista vivido por Ioan Gruffudd (Quarteto Fantástico), A Falha de San Andreas só não desanda no segundo ato graças ao carisma dos protagonistas. Um dos principais astros do cinema de ação atual, vide o upgrade que ele trouxe a franquia Velozes e Furiosos, Dwayne "The Rock" Johnson parece bem a vontade no papel de pai herói, conseguindo dar alguma profundidade ao seu personagem. Demonstrando uma ótima química com a competente Carla Gugino (Sin City), os dois se esforçam para amenizar o sentimentalismo barato em torno da história, trazendo verdade aos momentos mais exageradamente dramáticos. Por outro lado, se na condução das cenas densas Peyton deixa claro a sua inexperiência, nas sequências mais aventureiras o seu trabalho é bem mais interessante. Principalmente no arco liderado pela bela Alexandra Daddario, que vai muito bem como a simpática e exuberante Blake. Numa personagem cheia de energia, a jovem atriz é responsável por liderar a passagem mais equilibrada da trama, fugindo dos terremotos pelas ruas de São Francisco ao lado de dois irmãos ingleses, o atrapalhado Ben (Hugo Johnstone-Burt) e o esperto Ollie (Art Parkinson). Uma relação repleta de dinamismo, que foge do lugar comum ao colocar Blake como uma mocinha nada indefesa. 



Visualmente espetacular, Terremoto: A Falha de San Andreas cumpre a sua missão como filme catástrofe, oferecendo uma entretenimento satisfatório e extremamente envolvente. Ainda que oscile ao longo das sufocantes 1 h e 50 min de projeção, o "destrutivo" longa até balança diante das já vencidas fórmulas do gênero e do exagerado sentimentalismo, mas se mantém de pé graças ao talentoso elenco, a presença de Dwayne Johnson e a impressionante devastação em massa possibilitada pela equipe de efeitos digitais. Uma pena que em meio à cenas tão eletrizantes, como a assustadora invasão de um tsunami na baia de São Francisco, o canadense Brad Payton se renda a típica patriotada norte-americana, promovendo uma sequência final forçada e quase constrangedora. Uma daquelas cenas feitas para o público americano ver e o resto do mundo torcer o nariz.


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