Tensão do começo ao fim e impecável desempenho de Hugh Jackman, marcam o novo longa do diretor canadense Dennis Villeneuve
Duas horas e meia de pura tensão. Essa definição resume bem Os Suspeitos, a estreia em Hollywood do elogiado diretor canadense Dennis Villeneuve, o mesmo do indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro Incêndios (2010). Apesar da péssima tradução no titulo brasileiro, que remete diretamente ao filme de 1995 assinado por Bryan Singer, o suspense cumpre tudo aquilo que promete e se torna um dos melhores desta temporada de 2013. Com uma trama extremamente bem construída, e um elenco liderado pela marcante atuação de Hugh Jackman, Os Suspeitos é um daqueles filmes que não terminam com os créditos finais. Na verdade, ele segue martelando a cabeça do espectador, principalmente pela forma intensa com que debate quais são os limites do ser-humano a partir de uma grande tragédia familiar.
E quando digo que são duas horas e meia de tensão não estou exagerado. A primeira cena, envolvendo a caça de um pequeno animal, já demonstra bem o caminho que o longa irá seguir. A partir daí, somos apresentados as famílias Dover e Birch, que se preparam para o almoço do dia de Ação de Graças. Enquanto Franklin Birch (Terence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis) cuidam dos últimos detalhes para receber os amigos, Keller Dover (Hugh Jackman) e Grace Dover (Maria Bello) levam a esperada carne para a refeição. Tudo corria naturalmente bem, até que as jovens Anna Dover (Erin Gerasimovich) e Joy Birch (Kyla Drew Simmons), filhas mais novas dos dois casais, desaparecem misteriosamente. Desesperados com o sumiço das filhas, Keller e Franklin passam a correr contra o tempo para conseguirem descobrir o paradeiro das crianças, contando com a ajuda do Detetive Loki (Jake Gyllenhall). Em meio as poucas pistas, o primeiro grande suspeito passa a ser Alex (Paul Dano), um homem com nítidos problemas psicológicos, que rondava as região nos últimos dias. Alex, no entanto, parece não ter qualquer participação no crime e por isso é liberado pela policia. Indignado com tal situação, Keller resolve partir em uma investigação particular, ultrapassando todos os limites morais na busca por pistas do paradeiro de sua filha.
Através desta densa premissa, assinada por Aaron Guzikowski, o diretor Dennis Villeneuve consegue destacar as consequências desta tragédia familiar na rotina de cada um dos envolvidos. Explorando este lado humano dos personagens, sem questionamentos morais ou éticos, Villeneuve não deixa o ritmo cair ao longo das mais de duas horas de projeção. Conseguindo manter o clima de suspense até a última cena, o diretor canadense acerta ao criar uma atmosfera de sufocante tensão, explorando habilmente o processo de transformação envolvendo os personagens. Em meio as extremas atitudes, chama a atenção como as discussões sobre a conduta dos envolvidos extrapolam o limite da trama, permitindo que o espectador possa sentir, e talvez refletir, em meio a essa insana busca por respostas. Prova disso é que ao longo do filme fica aquela inevitável pergunta: qual seria o seu limite? Nesse ponto destaco a construção do personagem vivido por Jake Gyllenhaal, um policial - a princípio - sóbrio e confiante, que aos poucos vai se perdendo dentro do caso e padecendo diante da carga emocional que o envolve. Esse lado humano destacado em cada um dos personagens oferece um algo a mais para a trama, aumentando não só a densidade em torno do longa, mas também dando base para o avassalador clímax.
Desenvolvendo de forma impactante esses dilemas morais, Dennis Villeneuve acerta também na condução do suspense em si. Com um roteiro sem furos, e que abre espaço para uma participação maior do espectador, Os Suspeitos não aposta em reviravoltas mirabolantes, mas sim numa trama linear, complexa e bem concebida. É interessante ver como o argumento apresenta um a um seus personagens, sejam suspeitos ou não, sempre tentando acrescentar um algo a mais, uma pista, para a solução do mistério. Na verdade, a complexidade de Os Suspeitos se deve muito mais aos humanos personagens e as suas dúvidas, erros e acertos. Vale destacar, no entanto, que em nenhum momento eles se tornam meras peças de xadrez, alteradas na tentativa de manipular o espectador. Sem querer revelar nada da trama, fica nítida a intenção de Guzikowsk em ampliar essa abordagem do suspense. Com isso, o roteiro deixa de focar apenas na busca das duas crianças perdidas, mas também em interessantes e bem desenvolvidas sub-tramas, que caminham lado a lado até o impactante desfecho. Independente de algumas pistas soltas, e dos detalhes mais óbvios que acabam sendo deixados de lado, o resultado final é altamente satisfatório, contribuindo diretamente para o clima de tensão apresentado ao espectador.
Mais importante do que a trama, porém, é a condução do ótimo elenco. Com destaque para Hugh Jackman, em uma atuação digna das grandes premiações. Na pele do pai de família Keller, Jackman mostra - novamente - que é muito mais ator do que alguns pensam. Construindo um personagem extremamente intenso, Jackman interpreta com primor o desespero de um pai na busca por sua filha sequestrada. Além do astro australiano, vale destacar também o desempenho do já citado Jake Gyllenhaal. No personagem de maior transformação no longa, é impressionante ver como o ator flutua entre o racional e o irracional no decorrer da projeção. Somados a Jackman e Gyllenhaal, Os suspeitos traz ainda o sempre competente Paul Dano, que aqui no blog já foi citado como um dos mais subestimados da atualidade. Construindo um personagem que carrega um grande ponto de interrogação em sua cabeça, Dano demonstra uma fragilidade extremamente duvidosa. Além deles, Villeneuve conta ainda com as competentes atuações de Melissa Leo, Maria Bello e Terrence Howard. De negativo, apenas, o apagado desempenho de Viola Davis, e o pouco espaço dado ao jovem Dylan Minnette (Deixe-me Entrar), que mostra talento sempre que está em cena.
Apesar do péssimo título brasileiro, Os Suspeitos é um daqueles filmes que precisa ser apreciado. Sufocante e atrativo do início ao fim, acredito que o título original Prisioners (Prisioneiros na tradução literal) seria mais condizente e resumiria muito bem a sensação que aflige o espectador ao longo das quase duas horas e meia de projeção. Assim como os próprios personagens, nos sentimos presos ao desenvolvimento da trama, conectados às atitudes de cada um dos envolvidos, nesta inquieta e surpreendente jornada através dos limites do ser humano.
3 comentários:
O filme de fato é muito bom é intrigante, a hora passa e você nem percebe. Vale muito a pena ver este filmaço..
Concordo plenamente... Nem parece que tem quase 3 horas !!!!!! Valeu pela visita Thiago. Abs.
Muito Top esse filme. Eu recomendo.
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