Entre o trash e o cult, filme alienígena britânico mostra que é possível fazer Sci-fi com pouco orçamento
Promovendo uma subversão aos clássicos longas de aventura da década de 1980, como os antológicos Gremilins e Os Goonies, o longa britânico Ataque ao Prédio dá uma nova roupagem ao quase combalido gênero e leva a criançada para um subúrbio de Londres. Esqueça então os pré-adolescentes inocentes e corajosos norte-americanos. Aqui a turma é parte de uma gangue de delinquentes e terá que usar de suas malandragens para livrar o planeta de uma invasão alienígena. Com uma trama extremamente ácida e um elenco quase que desconhecido, o filme dirigido Joe Cornish não se leva a sério e consegue surpreender graças a uma bem sucedida mistura entre o humor e o terror.
Com roteiro também assinado por Cornish, o longa de 13 milhões de dólares mostra que com criatividade ainda é possível fazer um bom trabalho Sci-fi. Apostando numa trama objetiva e repleta de boas sacadas, Ataque ao Prédio narra a história de uma gangue juvenil liderada por Mason (John Boyega), um jovem negro que sobrevive de pequenos furtos junto de sua turma. Num destes, eles acabam se cruzando com a enfermeira Sam (Jodie Whittaker), uma nova moradora do conjunto habitacional da turma. O problema é que enquanto eles assaltavam a jovem, uma criatura alienígena cai na terra e ataca o grupo. Ferido, Moses acaba perseguindo e matando o alienígena, o exibindo como troféu por todo o bairro. O que eles não sabiam é que Sam deu queixa na policia e que um esquadrão de aliens iria desembarcar na terra para buscar vingança. Perseguidos pela policia, pelo chefe do tráfico local e pelos sedentos aliens, o grupo de jovens então parte numa surtada aventura, repleta de muita correria, maconha e alienígenas felpudos.
Explorando de forma interessante o humor, genuinamente britânico, e o terror, o roteiro assinado por Joe Cornish consegue um ritmo invejável, guardando surpresas e encontrando boas soluções durante as quase 1 hora e meia de duração. Ácido nas criticas, o argumento aposta em bons diálogos para questionar a situação dos jovens ingleses. Sem se prender aos clichês do gênero, desde o início percebemos que o longa é despretensioso, o que curiosamente só aumenta o entretenimento do espectador. Tecnicamente bem realizado, a direção de arte do longa dá um visual simples e interessante as criaturas, totalmente pretas com dentes azuis brilhantes, que em alguns momentos conseguem arrancar alguns sustos. Outro ponto alto da produção é a trilha sonora, que embala bem todas as cenas, dando ainda mais ritmo ao filme. Além disso, Cornish mostra talento na condução do elenco, criando bons takes de ação e um clímax de alto nível.
Por falar no elenco, com poucos nomes conhecidos a garotada inglesa desfila talento no filme. Com exceção do comediante Nick Frost, dos ótimos Chumbo Grosso e Todo mundo quase Morto, e de Jodie Whittaker, de Vênus e Um Homem bom, o restante do elenco faz a sua estreia em grandes filmes. E o grande destaque fica para o protagonista Moser, interpretado por John Boyega. Numa atuação segura e vibrante, Boyega consegue representar bem a figura de um líder, mostrando um ar sofrido diferente dos outros jovens. Apesar do filme não focar muito nessas questões, o roteiro dá leve pistas que Moses vive praticamente sozinho, sob a tutela do tio. Incorporando bem estas questões, o jovem convence tanto nestes pequenos dramas, como também nos momentos de maior frenesi. Outro destaque do filme vai para o carismático personagem Peste, vivido por Alex Esmail. Responsável pelos melhores momentos de alivio cômico, o jovem mostra talento e consegue se destacar.
Flutuando entre o trash e o cult, Ataque ao Prédio se apoia na originalidade para contar mais um embate entre os humanos e os alienígenas. Com uma linguagem jovem e sem grandes pretensões, o longa mostra um pouco da atual faceta da criançada, interessada cada vez mais em games violentos e numa vida mais precoce. O interessante é que após o belo e nostálgico trabalho apresentado por Spielberg e J.J Abrams em Super 8, Ataque ao Prédio mostra que o gênero pode sim sobreviver sem a necessidade desta volta ao passado. Sem dúvidas, um belo primeiro passo para quase todos os envolvidos no projeto.
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