Defendo a tese que filmes biográficos são bem mais complicados de se fazer. Contar uma história que já vem pronta, pré-fabricada, torna o trabalho da direção e da produção bem mais difícil. Um passo em falso, e o trabalho pode cair no "lugar-comum" em que muitos filmes do gênero não conseguiram sair. Felizmente, este não é o caso de Um Sonho Possível, longa que deu a Sandra Bullock o primeiro e muito merecido Oscar de sua carreira. Com uma narração tocante, ótimas atuações e direção segura, o filme emociona de maneira simples e cativante, nos oferecendo uma bela lição de vida.
Narrando a história real do jogador de Futebol Americano Michael Oher, adaptada de obra literária escrita por Michael Lewis, o longa mostra a vida do jogador ainda na adolescência. Perto de completar 17 anos, Big Mike, como era conhecido, vagava de lar em lar sem encontrar uma família para viver. Amargurado pela vida, e por todas as dificuldades que enfrentava, o jovem praticamente não se expressava. Apesar disto, o seu grande porte físico e o seu jeito caladão cativava as pessoas. E uma delas foi Leigh Anne (Sandra Bullock), uma mulher moderna, de alta classe social, que oferece abrigo ao jovem em uma noite de frio. Curiosa com relação a vida deste jovem, ela e toda a sua família passam a se envolver cada vez mais com Big Mike, o "adotando" como um membro de sua família.
Sabendo explorar bem a dramaticidade da trama, o diretor e roteirista John Lee Hancock consegue encontrar, na medida certa, a essência de Michael Oher. Sem abusar dos clichês, ou proporcionar o sentimento de pena no espectador, o diretor reproduz com intensidade todos os problemas que o jovem enfrentava. Utilizando da arte do flashback, o diretor vai aos poucos permitindo que o espectador comungue dos mesmos sentimentos do personagem principal, assim o compreendendo melhor. E esta pode ter sido a grande sacada de Hancock, que evita tornar ainda mais pesada no longa, com imagens fortes e conflitos, a triste infância do jovem Michael. Como se não bastasse isto, o filme por diversas vezes flutua entre o drama e a comédia sem parecer forçado. Personagens como o filho mais novo SJ, o técnico Burt e a própria Leigh Anne trazem à trama um humor bastante eficiente. Outro ponto muito interessante, e que dá nome ao filme no original, é o fato do futebol americano ter sido muito bem abordado no longa. Logo nos créditos iniciais, a cena de Bullock explicando o que seria o tal "lado cego" do título é bastante interessante e ilustrativa. Além disto, esqueça as partidas longas. Diferente da grande maioria de filmes do gênero, Um Sonho Possível privilegia o drama do personagem e toda a fase de readaptação à sociedade.
E o sucesso de Um Sonho Possível se deve a grande atuação do elenco como um todo, mais precisamente da ótima Sandra Bullock. Perfeita nesta variação entre gêneros, a atriz dá um show. Loira - como nunca se viu - fica a impressão que a cada momento que ela entra em cena um raio de sol ilumina a tela, tamanha intensidade e paixão impressa ao longo da trama. Provando assim que a Academia não errou em premia-la com o Oscar de Melhor Atriz. Além dela, a interpretação de Quinton Aron, na pele do jovem Michael, é de encher os olhos. É muito interessante ver como o jovem ator consegue mudar, não só a sua expressão facial, como a sua personalidade com o decorrer do longa. O mais interessante é que Quinton nunca havia atuado em um grande filme. O ator era segurança e, ao término do teste, teria inclusive oferecido um cartão de seus serviços caso não fosse contratado. Felizmente ele foi... Somado a eles, o filme tem ainda a ótima participação de Kathy Bates que, apesar de curta, tem grande importância no decorrer da trama, e do jovem Jae Head, hilário como o irmão SJ. Podem ter certeza que em breve, este menino irá conseguir papeis ainda maiores.
Enfim, Um Sonho Possível se tornou uma das grandes surpresas do ano de 2010. Na verdade, até o momento, é um dos melhores filmes que assisti neste semestre. Simplesmente irretocável, o longa encanta, emociona, cativa e proporciona ao público aquela sensação de quero mais. Com cenas realmente marcantes, como o diálogo entre as duas "mães", e mostrando de maneira interessante a nova caracterização da família americana, John Lee Hancock provavelmente fez o melhor trabalho em sua carreira. Assistam e se emocionem...
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