quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Avesso aos holofotes, mas jamais esquecido, Macaulay Culkin completa 40 anos em paz com o seu turbulento passado


Poucos atores experimentaram o frisson do mundo do showbiz tão precocemente quanto Macaulay Culkin. Com o seu rosto angelical e uma espirituosa personalidade, ele se tornou um dos mais rentáveis astros infantis de todos os tempos. O maior desde a icônica Shirley Temple. Aos 13 anos, Culkin já era tratado pela revista Premiere como uma das 50 pessoas mais poderosas de Hollywood. Aos 14, estima-se, já havia faturado mais de US$ 50 milhões em salários. Nos bastidores, porém, a sua rotina estava longe da dos seus principais personagens. O sonho do sucesso escondia o pesadelo da realidade.


Macaulay Carson Culkin nasceu em Nova Iorque, no dia 26 de Agosto de 1980. Filho do ex-ator Kit Culkin e de Patricia Brentrup, ele cresceu numa família tão numerosa quanto a do seu principal personagem, o “esquecido” Kevin McCallister. Macaulay tinha outros seis irmãos, entre eles os também atores Kieran Culkin (Scott Pilgrim) e Rory Culkin (Pânico 4), além da falecida Dakota, morta vítima de um atropelamento em 2008. Frustrado com a sua própria carreira, Kit, que chegou a contracenar com Laurence Olivier e Richard Burton na Broadway, queria encontrar nos filhos o sucesso que não conseguiu para si. Após falhar em alguns testes com outros herdeiros, ele descobriu que Macaulay tinha tudo o que a indústria procurava. Aos 4 anos, o futuro astro estreava como ator. Primeiro em pequenas aparições no teatro e na TV. No cinema, ele começou em 1985 com um papel não creditado na comédia de horror A Hora do Terror (1985). Macaulay Culkin logo chamou a atenção. Em O Rochedo de Gibraltar (1988), o jovem ator roubou a cena no drama capitaneado pelo veterano Burt Lancaster. No mesmo ano, o então pequeno coadjuvante arrancou risadas ao lado do saudoso John Candy no sucesso Quem Vê Cara, não Vê Coração (1989). O filme que ajudou a redimensionar a sua carreira. 


Isso porque o diretor John Hughes ficou impressionado com a veia cômica de Macaulay Culkin no set. Tanto que não titubeou em indicá-lo para protagonizar o seu próximo roteiro, uma comédia familiar chamada Esqueceram de Mim (1990). Chris Columbus relutou. Testou mais de 200 atores no processo de pré-produção. Bastou um encontro, porém, para o cineasta perceber o óbvio: Hughes tinha razão. Aos 9 anos, Macaulay protagonizava aquele que seria a terceira maior bilheteria de todos os tempos até então. Esqueceram de Mim virou um fenômeno pop, faturou US$ 476 milhões e transformou o jovem ator na mais nova sensação de Hollywood. Num passe de mágica, Macaulay Culkin se tornou uma estrela infantil. Kit largou o emprego para cuidar exclusivamente da carreira do filho. Os milhares de dólares (estima-se 110 mil) recebidos por Esqueceram de Mim logo se tornaram milhões. Após estrelar o lacrimoso Meu Primeiro Amor (1991), o jovem recebeu US$ 4,5 mi para protagonizar o aguardado Esqueceram de Mim 2 (1992). Outro enorme sucesso de público. Àquela altura, Macaulay vivia o sonho de dez entre dez crianças. As aparências, no entanto, escondiam uma dura realidade. A relação entre o garoto de ouro de Hollywood e o seu pai logo se revelou um problema midiático. Dentro e fora da indústria. 


Os métodos de Kit ganharam evidência. Macaulay Culkin chegou a confessar que era obrigado por ele a dormir no sofá da sua mansão para não deixar que a fama subisse a cabeça. “Meu pai era um homem abusivo. Não tanto de modo físico, embora tenha havido um pouco disso, mas de modo mental. Eu lhe pedia um descanso, queria sair de férias pela primeira vez na vida, e ele não parava de assinar contratos para mais filmes. Ninguém me ouvia. Meu pai tinha uma cama tamanho gigante e uma televisão enorme e me fazia dormir com meu irmão no sofá. Fazia isso para quebrar meu espírito”, expôs Culkin em entrevista recente à revista Time. Uma postura agressiva que se refletiu também na carreira do ator. Macaulay só estrelou o enervante O Anjo Malvado (1993) graças ao ultimato do pai. Poucos dias antes do começo das filmagens, Kit entrou em contato com os produtores da 20th Century Fox e “exigiu” que o filho protagonizasse o thriller. Caso contrário ele não estrelaria Esqueceram de Mim 2. A produção do longa, que já tinha até o ator Jesse Bradford escalado para o papel, teve que ser pausada e a equipe demitida. Um prejuízo de quase US$ 3 milhões só para se adequar a agenda de Macaulay. 


O pior, porém, ainda estava por vir. O (hoje cult) Anjo Malvado foi um fracasso de público. Os problemas externos começaram a prejudicar a sua carreira. Após sofrer (mais uma vez) com a pesada interferência de Kit, o musical O Príncipe Quebra Nozes (1993) deu um enorme prejuízo. Na transição para a adolescência, Macaulay Culkin perdeu popularidade. Títulos como o ambicioso Pagemaster (1994), o esquecido Acertando as Contas com Papai (1994) e o querido Riquinho (1994) mal se pagaram nas bilheterias. Para piorar, em 1995, Kit e Patricia entraram na justiça pelo direito a operação da fortuna\carreira do filho. “Se eu fosse criança, gostaria que meus pais lutassem pela minha custódia porque me amam - não pelo meu dinheiro. É um pouco deprimente”, disse o diretor Chris Columbus (Esqueceram de Mim) na época do litígio. Aos 15 anos, tal qual o seu último grande personagem, Macaulay Culkin resolveu assumir a chave do cofre. Cansado da rotina de abusos, ele entrou na justiça e conseguiu tomar o controle do seu dinheiro. Decidiu também dar um basta na carreira. A jovem estrela saturada quis parar. Optou por viver o seu sonho na plenitude num apartamento gigante em NY com gastos excêntricos, aquisições lúdicas e muito conforto. Longe dos holofotes ele voltou aos estudos e se casou aos 17 anos com a atriz Rachel Miner. Um matrimônio precoce que durou dois anos. 


Em 2004, porém, Macaulay Culkin causou certa apreensão ao ser detido com algumas gramas de maconha e surgir com uma aparência magérrima. Um problema que, em entrevista recente ao Esquire, ele admitiu já ter superado. “Eu brinquei com fogo, acho que é a melhor maneira de dizer. Ao mesmo tempo, nunca fui a reabilitação ou algo assim. Eu nunca tive que me limpar dessa maneira. Houve momentos em que tive que me pegar, uma ou duas vezes. 'Você está se divertindo muito, Mack. [...] Eu não seria a pessoa que sou hoje se não tivesse tomado drogas em minha vida em algum momento ou outro. Eu tive algumas experiências esclarecedoras - mas também é estúpido, sabe? Então, além do relaxante muscular ocasional, não, eu não uso drogas por lazer. Eu bebo e fumo. Mas eu não toco nas coisas. São como velhos amigos, mas às vezes você supera seus amigos”, confidenciou o ator que, ao longo da sua infância, não pôde ter muitos deles. O ator nunca escondeu de ninguém que num dos momentos mais desgastados da sua carreira, durante as filmagens de O Riquinho, John Hughes foi um dos poucos a se preocupar com a sua saúde em visita ao set. 


Após romper a relação com o pai, Macaulay Culkin precisou de tempo para voltar a mídia. “Eu me aposentei para desaparecer da face da Terra. Mas seis anos depois compreendi que nunca iria poder me livrar da minha fama”, confidenciou o ator. Em paz com o seu passado, Culkin criou uma banda de rock, a Pizza Underground, co-estrelou os filmes ‘indie’ Galera do Mal (2004), Sexo e Mentiras (2007) e Changeland (2019), fez algumas participações na TV e causou um frisson mundial ao ressurgir como Kevin McCallister num comercial do Google em 2018. O que nos deixou com uma grande certeza. Embora tente se isolar do mundo midiático, o agora quarentão Macaulay Culkin jamais será esquecido.

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