quarta-feira, 12 de junho de 2019

Do Fundo do Baú | A Cegonha Não Pode Esperar (1988)


Dirigido pelo talentoso John G. Avildsen, dos clássicos modernos Rocky: Um Lutador (1976) e Karate Kid (1984), A Cegonha não pode Esperar (1988) é uma daquelas pérolas oitentistas totalmente subestimadas. Além de marcar o último grande papel da estrela dos anos 1980 Molly Ringwald dentro do universo dos filmes 'high-school', o longa foge do lugar comum ao trazer a maturidade para este popular subgênero, refletindo sobre a maternidade na adolescência numa comédia romântica leve, engraçada, mas consciente das suas responsabilidades. 

Embora, na transição para o último ato, o roteiro assinado por Tim Kazurinsky e Denise DeCluese agarre nos melodramas sentimentais típicos do segmento sem grande pudor, John G. Avildsen é cuidadoso ao traduzir o impacto de uma gravidez inesperada na rotina de dos Annie (Molly Ringwald) e Stan (Randal Batinkoff), uma dupla cheia de sonhos e metas a alcançar. Impulsionado pela radiante presença da estrela de Gatinhas e Gatões e Clube dos Cinco, que, infelizmente, não conseguiu repetir na sua fase adulta o sucesso conseguido na "adolescência", o realizador esbanja sinceridade ao mostrar a realidade dos fatos, ao explorar temas espinhosos como a possibilidade do aborto, a adoção, os conflitos familiares, o casamento precoce, as repentinas mudanças de perspectivas de vida e (logicamente) a árdua rotina materna\paterna. 


Ao longo dos dois primeiros atos, John G. Avildsen transita habilmente entre a comédia e o drama ao expor as rupturas, o peso das decisões do casal nas suas respectivas relações familiares. Por mais que o foco esteja nos naturalmente erráticos jovens, é legal ver o esmero do roteiro no desenvolvimento dos personagens experientes, em especial da desconstruída mãe de Annie (Miriam Flynn) e do estabanado pai de Stan (Kenneth Mars, excelente). Mais do que meros coadjuvantes\alívios cômicos, os dois surgem como uma espécie de espelho para o futuro do jovem casal. Ao invés de se concentrar somente na questão da maternidade em si, o longa é astuto ao oferecer uma visão completa sobre a situação dos dois, ao mostrar dentro de um contexto verossímil a consequência dos seus respectivos atos, o peso do amadurecimento precoce.


Em suma, um 'coming of age movie' de respeito, A Cegonha não Pode Esperar (For Keeps?, no original) cativa ao pintar um retrato convincente sobre a realidade de muitos jovens ao redor do mundo. Um filme que, embora preze pelo humor sempre que possível, vide a impagável sequência do casamento, supera as expectativas ao falar a língua do seu público alvo, ao refletir sobre temas\conflitos tão íntimos e universais com indiscutível propriedade. Um filme que não merece cair no esquecimento, principalmente pela forma com que evita romantizar os percalços da maternidade e da vida a dois.

Nenhum comentário: