segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Cinco momentos que marcaram a noite de manifestações no Globo de Ouro 2018

Na imagem estão Meryl Streep, Ai-jen Poo, Natalie Portman, Tarana Burke, Michelle Williams, America Ferrera, Jessica Chastain, Amy Poehler e Saru Jayaraman. Foto: AP
Após uma série de denúncias envolvendo os alarmantes casos de assédio em Hollywood, o Globo de Ouro 2018 (leia o nosso artigo sobre a premiação aqui) se tornou um receptivo palco para as manifestações de estrelas e astros da indústria do entretenimento. Movidos pela campanha Time's Up, um movimento liderado por mais de trezentas atrizes, diretoras e escritoras em prol da igualdade e da luta pelos direitos das mulheres de baixo poder aquisitivo no tribunal, realizadoras e realizadores decidiram vestir preto num protesto silencioso e elegante. Ao longo da cerimônia, porém, o tom subiu. Ora com ironia, ora com emoção, alguns apresentadores decidiram manifestar as suas opiniões publicamente, transformando a 75ª edição do prêmio da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood numa das mais marcantes dos últimos anos. O resultado foram momentos emblemáticos e uma festa marcada pelo forte teor político. No artigo, portanto, vamos relembrar cinco dos episódios mais relevantes do Globo de Ouro 2018.

- Seth Meyers não poupa Harvey Weinstein e Kevin Spacey


Com a missão de conduzir a cerimônia, Seth Meyers resolveu colocar o dedo na ferida ao rir ferozmente dos casos recentes de assédio em Hollywood. No seu afiado discurso de abertura, ele "tirou o elefante da sala" ao atacar o ator Kevin Spacey e o produtor Harvey Weinstein, dois dos pivôs desta onda de denúncias dentro da indústria do entretenimento. Meyers abriu com um "Boa Noite para as senhoras e senhores que restaram", se referindo ao grande número de personalidades acusadas de algum tipo de conduta imprópria. Sem papas na língua, ele foi incisivo ao abordar a derrocada de Weinstein, subindo o tom ao discorrer sobre - até então - um dos homens mais poderosos de Hollywood. "Bem, acho que é o momento de abordar o elefante na sala. Harvey Weinstein não está aqui esta noite. Porque, bem, eu ouvi rumores de que ele é louco e difícil de trabalhar. Mas não se preocupem, ele estará de volta em 20 anos, quando será a primeira pessoa a ser vaiada durante o "In Memoriam". (um murmurinho constrangido toma conta do lugar). Vai soar assim mesmo.", afirmou o apresentador numa piada pesadíssima. Num tom mais ameno, Meyers atacou também Kevin Spacey, mas sem se referir as denúncias contra ele. "Bem, apesar de tudo o que aconteceu este ano, o show continua. Por exemplo, fiquei feliz em saber que eles vão fazer outra temporada de "House of Cards". Christopher Plummer está disponível para isso também? Espero que ele possa fazer um sotaque do sul, porque Kevin Spacey não conseguia. Ah, isso é maldade? Com Kevin Spacey?", indagou. Ao longo do discurso, claro, Seth Meyers também mostrou presença de espírito ao falar sobre o presidente Donald Trump, numa inteligente piada envolvendo a associação por trás do Globo de Ouro. "E estamos todos aqui esta noite convidados pela Imprensa Estrangeira de Hollywood. Sim, aplausos para Imprensa Estrangeira de Hollywood. Uma sequência de três palavras que não poderia ter sido melhor concebida para enfurecer o nosso presidente. "Imprensa Estrangeira de Hollywood". O único nome que poderia irritá-lo ainda mais seria a Associação da Salada Mexicana de Hillary.", riu Meyers lembrando dos problemas envolvendo Trump e os imigrantes.


- Elisabeth Moss emociona num impactante discurso em prol das mulheres



Uma das mais talentosas atrizes em atividade, Elisabeth Moss (Garota Interrompida) ainda não conquistou o espaço merecido no mundo do cinema. No universo televisivo, porém, ela tem mostrado o seu talento em produções densas e indiscutivelmente qualificadas. Estrela do extraordinário Mad Men, Moss teve o seu trabalho reconhecido em The Handmaid's Tale, faturando o prêmio de Melhor Atriz em Série Dramática. No palco, ela mostrou a sua reconhecida doçura\serenidade ao analisar a situação feminina na atualidade, um discurso incisivo que arrancou aplausos entusiasmados da platéia. "Margaret Atwood, isso é para você e outras mulheres que vieram em seguida que foram valentes o bastante para se manifestar contra a intolerância e a injustiça. Já não vivemos mais nos espaços em branco nas bordas da impressão. Já não vivemos nas lacunas entre as histórias. Nós somos a história impressa. Estamos escrevendo a história nós mesmas." concluiu Moss numa enfática referência ao texto da escritora Margaret Atwood, a mulher por trás do livro que inspirou a série.

- Oprah Winfrey arranca aplausos de pé com um poderoso discurso sobre igualdade. 



Apresentadora, atriz e produtora, Oprah Winfrey foi agraciada com o prêmio honorário Cecil B. DeMille pelo seu trabalho filantrópico e a sua versátil carreira. Conhecida por seus trabalhos em títulos como A Cor Púrpura, O Mordomo da Casa Branca e Selma, Winfrey foi ovacionada ao falar em igualdade, verdade e justiça. Num discurso comovente, ela lembrou do astro Sidney Poitier e do impacto que a sua vitória no Oscar de Melhor Ator por Uma Voz nas Sombras teve na sua infância. "Em 1964, eu era uma menina, sentada no chão da casa da minha mãe, assistindo Sidney Poitier vencer o prêmio de melhor ator. Ao palco veio o homem mais elegante que eu já vi. Me lembro da gravata branca e sua pele negra. Eu nunca tinha visto um negro homenageado assim. Tentei várias vezes explicar o que aquele momento significava para uma criança de um lugar tão humilde, enquanto minha mãe entrava em casa, cansada de limpar a casa dos outros. E nesse momento, não consigo deixar de pensar que podem existir outras pequenas meninas me assistindo receber este prêmio. Sou a primeira mulher negra a ganhá-lo. É uma honra, e um privilégio compartilhar a noite com todas elas, e todos os homens e mulheres que me inspiraram, me desafiaram e me trouxeram até aqui.” Contundente, a realizadora dedicou a sua conquista às mulheres que sofrem ou sofreram algum tipo de abuso e daquelas que "se silenciaram pois tinham filhos para sustentar". "Eu entrevistei e interpretei pessoas que passaram por coisas horríveis na vida, e todas elas tinham a capacidade de manter a esperança por um dia melhor. Mesmo nas noites mais terríveis. Eu quero que todas as meninas que estejam ouvindo isso saibam que um novo dia está no horizonte, e quando este dia chegar, vai ser porque muitas mulheres magníficas e alguns homens ajudando a elas, lutaram para serem os líderes que conduziram esse tempo em que ninguém mais precise dizer eu também", finalizou Winfrey lembrando da #metoo e desta popular campanha contra o assédio sexual.

- A realidade bate à porta na categoria seguinte. Natalie Portman faz piada. 
Após o imponente discurso de Oprah Winfrey, no entanto, a realidade bateu à porta e evidenciou a desigualdade na categoria Melhor Direção. Num ano em que nomes como Greta Gerwig, Dee Rees e Patty Jenkins roubaram a cena, a lista de indicados à esta importante categoria era composta apenas por representantes masculinos. Com presença de espírito, a atriz Natalie Portman não deixou a situação passar e, com ironia, reforçou esta situação. "E estes são todos os homens indicados", lembrou a estrela de O Profissional e Cisne Negro. Após as palavras de Portman, o constrangimento tomou conta do espaço, o que ficou bem claro na expressão dos cinco indicados. A lamentar a situação dos diretores nomeados, principalmente do sensível Guillermo Del Toro, um realizador respeitado que sempre fez questão de exaltar o protagonismo feminino. Incomodada com a situação, Barbara Streisand usou o Twitter para se manifestar sobre o tema. E com propriedade, já que ela foi a última diretora a ser "agraciada" com a estatueta do Globo de Ouro, por Yentl, na década de 1980. "Aqui vai um fato terrível. Nenhuma única mulher ganhou o Globo de Ouro de Melhor Direção desde que eu afortunadamente levei o prêmio por Yentl in 1984.... há 34 anos. Isso não está certo."


No tweet seguinte, ela manifestou a sua opinião sobre o trabalho de outras diretoras, lembrando que existiam grandes nomes femininos no páreo. "Na minha humilde opinião, eu fiquei muito desapontada que a diretoria Dee Rees e o seu poderoso Mudbound não foi sequer nomeada. Eu também gostaria de ver a diretora Patty Jenkins e o seu Mulher-Maravilha reconhecido porque mostrou o quão forte uma mulher pode ser, não só enquanto uma personagem, mas também nas bilheterias. Os três filmes de maior bilheteria nos EUA do ano passado foram carregados por mulheres." concluiu Streisand lembrando da trinca A Bela e a Fera, Mulher-Maravilha e Star Wars: Os Últimos Jedi.

- Frances McDormand usa da ironia, mas é direta ao defender a presença feminina no Cinema. 

 


Reconhecida pelo seu forte senso de humor, o que fica bem claro na sua filmografia, Frances McDormand riu, brincou com as indicadas, mas foi enfática ao defender a igualdade de gêneros em Hollywood. "Tenho algumas coisas para dizer, mas vou falar por pouco tempo porque a gente está aqui há muito tempo e a gente precisa de tequila. Eu pago a tequila para todas as mulheres desta categoria. Nós mulheres não estamos aqui pela comida, mas pelo trabalho.", frisou McDormand que, durante o agradecimento a Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, lembrou que eles tiveram a coragem de "eleger uma presidente mulher". Além disso, a atriz mostrou gratidão a distribuidora Fox Searchlight, agora parte da Walt Disney, realçando a importância da companhia e da propagação dos filmes mais autorais. "Eu gostaria de agradecer a Fox Searchlight, Film4, que permitiu que o nosso filme encontrasse o seu público, e ainda levasse pessoas aos cinemas ao redor do país. Podem me chamar de antiquada, mas eu amo isso." afirmou McDormand saindo em defesa do dispositivo cinema. 

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