quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Disney anuncia compra bilionária de parte das divisões da 21st Century Fox

E os Simpsons acertaram de novo

Cena do episódio dos Simpsons que, em 1998, antecipou a venda da 20th Century Fox
Após meses de especulações e negociações, a Disney anunciou na manhã desta quinta-feira (14) a compra de parte da 21st Century Fox. No acordo de venda de US$ 52,4 bilhões, a Walt Disney Company adquire a Twentieth Century Fox Film, a Fox Searchlight Pictures, a Fox 2000, os estúdios de TV e os negócios internacionais de TV a Cabo. Com isso, o estúdio compra os direitos de franquias do quilate de Avatar, Quarteto Fantástico, Deadpool, Planeta dos Macacos, Kingsman, Alien e Os Simpsons, além de sucessos recentes como A Forma da Água, do diretor Guillermo Del Toro. Lógico que, num primeiro momento, a negociação causa um compreensível frisson ao prometer reforçar (como se fosse preciso) o Universo Cinematográfico da Marvel. Assim como aconteceu recentemente com a volta do Homem-Aranha à Marvel Studios, o retorno dos mutantes (Wolverine, Ciclope, Tempestade, Magneto, Professor Xavier entre muitos outros) tem tudo para não só preencher as eventuais lacunas no futuro do MCU, como também enriquecer este imponente universo compartilhado.


No momento em que paramos para analisar a situação com mais frieza, entretanto, o 'hype' em torno deste gigantesco negócio perde parte da sua força. Por mais que a ideia de ver heróis tão populares juntos, por exemplo, seja fantástica, fica difícil precisar nas primeiras horas após a concretização da compra a maneira com que a Disney irá conduzir este processo. Na vanguarda do gênero, vide o nosso artigo sobre o sucesso do agressivo Logan, a Fox representava uma das vozes mais autênticas dentro do universo dos super-heróis. Títulos como X-Men (2000), X-Men: Primeira Classe (2011) e o recente Deadpool (2016) atestaram a capacidade do estúdio em se reinventar, se tornando peças importantes no desenvolvimento do segmento. Nos últimos anos, aliás, a companhia contornou os problemas de coesão narrativa, recuperando o prestígio com o esperto reboot do universo X-Men e obras mais adultas que o de costume. Embora muitos especialistas defendam que a Disney não vá interferir criativamente em produtos tão bem sucedidos, as dúvidas se tornam mais concretas quando o assunto é manutenção da violência desbocada do mercenário Deadpool ou então da maturidade dramática do recente Logan. 


Somado a isso, a Fox já tinha engatilhada uma promissora trinca de filmes para 2018. Embora todos estejam confirmados, não é tão simples precisar qual será o rumo do Universo Mutante após os lançamentos do cômico Deadpool 2, do sinistro Novos Mutantes e do super-heroico X-Men: Fênix Negra. É bom lembrar que, enquanto o Universo Vingadores se passa em sua maioria no tempo presente, a saga X-Men chegará a década de 1990 em Fênix Negra. Um fato que, indiscutivelmente, só reforça as incertezas quanto a temas como a manutenção do elenco e o destino dos personagens. Por falar em dúvidas, o que será da distribuidora Fox Searchlight com a compra da Disney? Uma das divisões de filmes independentes\autorais\estrangeiros mais férteis do cinema atual, este importante "apêndice" da Fox se tornou figurinha carimbada nas grandes premiações, emplacando títulos do porte dos ainda inéditos A Forma da Água e Três Anúncios para um Crime, os recentes Juventude (2015), Brooklyn (2015) e Eu, Você e a Garota que Vai Morrer (2015), além dos sucessos de crítica Birdman (2014), O Grande Hotel Budapeste (2014), 12 Anos de Escravidão (2013), Os Descendentes (2011), A Árvore da Vida (2011), Cisne Negro (2010), 127 horas (2010), O Lutador (2008), Quem quer ser um Milionário? (2008), dentre muitos outros. Como a Disney não tem uma divisão semelhante, principalmente após o fechamento da Miramax, a expectativa é que a Fox Searchlight tenha a oportunidade de seguir dando voz a produções tão relevantes para a Sétima Arte. 


Diante de tantas perguntas, Bob Iger, CEO da Disney, ao menos fala em expansão, ressaltando as possibilidades que está negociação trará a companhia. “Estamos felizes com essa oportunidade de aumentar significativamente o nosso portfólio de franquias amadas e conteúdos de marca para aprimorar nossas ofertas aos consumidores. O acordo também irá expandir substancialmente o nosso alcance internacional, permitindo a nós oferecer conteúdo de primeira qualidade e plataformas de distribuição inovadoras a mais consumidores em mercados estratégicos ao redor do mundo”, resumiu o executivo em nota oficial. É bom lembrar que a Disney anunciou recentemente que irá criar o seu próprio serviço de streaming, um produto que, com a adição do incrível catálogo da Fox, soa cada vez mais interessante.

Nas últimas horas, aliás, alguns realizadores resolveram se manifestar sobre esta grande transação. Criador de Kingsman e Kick-Ass, Mark Millar lamentou a negociação e refletiu sobre a vasta gama de super-heróis em posse da Disney. "Bom para a Disney, ruim para a Fox, já que altos níveis de burocracia chegarão na parte criativa. Também é ruim para os talentos, já que os agentes têm um estúdio a menos para apresentar seus projetos. Não vejo nenhum lado positivo nisso. Lindas apostas como Deadpool nunca aconteceriam na Disney. X-Men e Wolverine são muito bons na Fox, 6 de 9 filmes foram bons. Mas eles estão cansados agora e precisam se recarregar. Nessa área, a Disney pode ajudar, já que é um recomeço. Um pensamento final: Se a Marvel tivesse os X-Men e Quarteto Fantástico 5 anos atrás, eles teriam feito o Guardiões da Galáxia ou Homem-Formiga? A Disney fará apenas uma quantidade específica de filmes por ano. Espero que o público não perca mais projetos únicos agora", concluiu Millar via Twitter se mostrando pouco entusiasmado com a massiva reunião de super-heróis na Marvel Studios. Na contramão do quadrinista, o diretor James Gunn se manifestou sobre a complexa transação, mas fez questão de celebrar o retorno dos mutantes ao MCU. "Embora haja muitos aspectos para a aquisição da Disney dos ativos do 21st Century Fox, eu estou incrivelmente feliz por isso, por razões óbvias. Bem-vindo a casa, velhos amigos", afirmou o diretor compartilhando o link de um artigo sobre a volta dos X-Men e do Quarteto Fantástico para a companhia. Por fim, num tom bem mais irônico, James L. Brooks, criador dos Simpsons, compartilhou uma divertida mensagem de boas vindas no seu Twitter (foto acima).

Nenhum comentário: