Nesta quarta-feira, dia 28 de Junho, é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Apesar dos inegáveis avanços em torno da causa homossexual, esta festiva data segue sendo o estopim para uma importante reflexão acerca da
intolerância e a violência contra gays, lésbica, bissexuais e transexuais.
Longe de ser uma questão resolvida dentro da nossa sociedade, o preconceito vem
sendo encarado por movimentos como a causa LGBT, um luta árdua e frequentemente
retratada na indústria do entretenimento. Nos últimos anos, aliás, alguns
realizadores têm assumido uma posição importante dentro deste processo de
conscientização, encontrando no Cinema a plataforma ideal para o debate
envolvendo a situação do homossexual dentro da nossa sociedade. E para celebrar
esta importante data, neste Top 10 iremos fazer uma lista com os filmes sobre o
universo LGBT que merecem ser conhecidos. Para isso, entretanto, irei deixar de
fora os filmes mais populares, portanto você não irá ver aqui títulos como Rocky Horror Picture Show (1975), Priscila: A Rainha do Deserto (1994), Tudo Sobre Minha Mãe (1998), Meninos Não Choram (1999), O
Segredo de Brokeback Mountain (2005) entre outros. Dito
isso, começamos com...
Inspirado em fatos, Amor Por Direito é um filme que não consegue
explorar todo o potencial por trás deste indignante relato. Ainda assim, se
trata de um representante digno da bandeira LGBT. Conduzido com inegável
frouxidão pelo diretor Peter Sollett, o longa peca ao apostar no drama em
detrimento do romance, esvaziando uma comovente história de amor ao enfatizar o
imbróglio jurídico por trás da policial Laurel Hester e da mecânica Stacie
Andree. Embora as ótimas Juliane Moore e Ellen Page se esforcem ao traduzir a
forte conexão entre as duas mulheres, Sollett confunde sensibilidade com frieza
ao estabelecer esta devotada relação de amor, uma abordagem bem conservadora
que torna o primeiro ato um tanto quanto monótono. Bastam surgir os primeiros
conflitos em torno desta relação, entretanto, para o filme ganhar um novo e
envolvente rumo. Sob um prisma extremante unidimensional, o roteiro assinado
por Ron Nyswaner (Filadélfia) é preciso ao reproduzir os bastidores da luta das
duas por um direito tão simples: o da pensão matrimonial. Fazendo um primoroso
uso dos enérgicos personagens de apoio, entre eles o rígido policial vivido
pelo sempre ótimo Michael Shannon e o "enfático" ativista
interpretado pelo excelente Steve Carell, Sollett coloca a trama nos trilhos ao
realçar (ai sim) o vínculo entre os personagens, ao mostrar o preconceito, as
ameaças, mas também o esforço coletivo em prol da aprovação da lei, tornando a
segunda metade da película bem mais densa e completa. Em suma, mesmo com
evidentes descuidos narrativos, Amor Por Direito comove ao revelar a luta de
duas mulheres comuns em busca de igualdade. Um relato por vezes protocolar que,
deslizes à parte, se sustenta nas dedicadas atuações do talentoso elenco
(Juliane Moore está fantástica) e na capacidade do roteiro em mostrar o
preconceito na sua forma mais atual.
9º Orgulho e Esperança (2014)
Como é bom ser surpreendido com um excelente filme. Indicado ao Globo de
Ouro na categoria Melhor Comédia ou Musical, Orgulho é Esperança é uma película
completa e indispensável. Conduzido com extrema sensibilidade pelo desconhecido
Matthew Warchus, o longa propõe uma poderosa mensagem de integração sem abdicar
do entretenimento, investindo numa abordagem repleta de sentimentos ao narrar
um episódio no mínimo curioso envolvendo o movimento sindical britânico.
Transitando do humor ao drama com enorme precisão, o realizador passeia por uma
série de espinhosos temas com enorme espontaneidade, escancarando alguns dos
mais enraizados preconceitos ao acompanhar os bastidores da união entre um
determinado grupo de ativistas LGBT e um pacato sindicato de mineradores
galeses. Impulsionado pelo eclético elenco, que, numa mistura magnética,
equilibra a energia dos jovens Ben Schnetzer (impecável como o idealista Mark),
George MacKay (intenso como o temeroso Joe) e Jessica Gunning (fantástica como
a carismática Sian), com a vitalidade dos experientes Bill Nighy (como sempre
versátil como o contido Cliff), Imeulda Stanton (vibrante como a indomável
Hefina) e Paddy Considine (sincero como o compreensível Dai), Orgulho e
Esperança se revela uma comédia dramática poderosa, revigorante e absolutamente
integradora. Um filme capaz de nos fazer rir, emocionar e, acima de tudo, nos
mostrar a importância do respeito às diferenças.
8º Transamérica (2005)
Impulsionado pela magnífica performance da atriz Felicity Huffman,
Transamérica é um 'road-movie' revelador. Conduzido com extrema leveza por
Duncan Tucker, o longa envolve ao narrar a inusitada reaproximação entre uma
transsexual e o seu desconhecido filho. Impecável ao questionar a ignorância
por trás da situação da protagonista, a elegante Bree, o longa se revela um
relato autoral sobre o transexualismo, sobre as crescentes dúvidas e incertezas
em torno deste delicado procedimento. Embora num primeiro momento Bree se
mostre convicta e determinada, o roteiro é cuidadoso ao desvendar as
inseguranças da personagem, um tema potencializado pelo repentino contato com o
seu filho (Kevin Zegers). Longe da sua confortável bolha, ela se vê obrigada a
enfrentar o preconceito, o olhar de desconfiança, um panorama descortinado com
ironia pelo texto de Duncan Tucker. Além disso, a relação entre "pai"
e filho ganha um rumo bem interessante, já que Bree decide manter em segredo a
sua verdadeira identidade. O resultado é uma obra original do primeiro ao
último segundo, um filme que comove ao tratar a questão do transexualismo sob
um prisma humano e extremamente honesto.
7º Direito de Amar (2009)
Oriundo do mundo da moda, o estiloso diretor Tom Ford estreou em
Hollywood com o primoroso Direito de Amar. De longe o filme mais robusto e
melancólico da lista, o longa estrelado pelo excelente Colin Firth emociona ao
revelar o estado de espírito de um professor gay desolado após a perda do
grande amor de sua vida. Ambientado num cenário bem específico, a
transformadora década de 1960, o filme é elegante ao expor as nuances emocionais do protagonista, a
desilusão, a depressão e a sua completa falta de rumo. Com um texto sofisticado
em mãos, Ford fascina ao dar contornos esteticamente expressivos para a jornada
do personagem, ao acompanhar as idas e vindas num dia D para a sua vida. Além de
se aprofundar no aspecto emocional proposto pela trama, o realizador é
cuidadoso ao realçar os lampejos de prazer deste abatido homem, o seu apreço
por coisas simples, como os corpos esculturais de dois tenistas ou uma bela
paisagem de outono. A beleza surge sempre como um contraponto, um símbolo de
esperança em meio à depressão. Um elemento potencializado pela requintada
fotografia de Eduard Grau (O Presente). Dito isso, Direito de Amar é uma obra
singular, um filme universal e narrativamente instigante sobre o amor e as suas
consequências. Uma obra profunda marcada pelas excepcionais atuações, pela
virtuosa direção de Tom Ford e por um daqueles desfechos pensados para promover
a reflexão.
6º O Jogo da Imitação (2014)
Trazendo no currículo oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme,
Diretor, Ator e Atriz, O Jogo da Imitação segue um caminho inusitado ao narrar
uma vergonhosa história de intolerância. Apostando numa narrativa espirituosa,
que se apropria com perícia do humor em torno deste dramático episodio, o
diretor Mortem Tyldum coloca o seu nome no mapa ao nos apresentar a jornada do
matemático Allan Turing. Empurrado pela magistral atuação de Benedict
Cumberbatch, brilhante ao explorar as nuances do seu complexo personagem, este
elegante drama realmente impressiona ao questionar de maneira sóbria os tabus
sexuais em torno deste heroico personagem da Segunda Guerra Mundial. Um gênio
que apesar da significante participação neste conflito, desvendando um dos
maiores códigos do exército nazistas, não conseguiu vencer a sua guerra pessoal
contra o conservadorismo do governo britânico. Intercalando presente, passado e
futuro com precisão, quase sempre numa reação de causa e consequência, O Jogo
da Imitação se mostra um relato relevante e lamentavelmente verídico sobre um
dos maiores gênios da matemática britânica. Evitando se resumir a já
reconhecida figura heroica do matemático, que, segundo estudiosos, teria
salvado mais de 14 milhões de vidas com a sua invenção, Mortem Tyldum mostra
equilíbrio ao narrar a vida de um personagem fascinante. Um homem que, em
função da sua opção sexual, optou por levar uma vida automatizada, tal qual uma
de suas tão estimadas e significativas máquinas.
5º The Normal Heart (2014)
Produzido pela HBO, o telefilme The Normal Heart é mais um dos
relevantes trabalhos sobre o "boom" da AIDS nos EUA. Dirigido pelo
eclético Ryan Murphy, da série Glee, o longa nos apresenta a impactante
história real de Larry Kramer, um dos primeiros ativistas a perceberem toda a
nocividade deste vírus. Equilibrando no elenco nomes consagrados da TV e do
Cinema, Murphy encontra no competente Mark Rufallo (Os Vingadores) a figura
perfeita para viver este importante ícone na luta pelos direito dos
homossexuais. Contando com uma narrativa crua e extremamente pesada, o diretor
não foge dos conflitos e das divergências que marcaram todo o crescimento do
movimento gay norte-americano. Homossexual assumido, Murphy é preciso ao
conduzir essa impressionante história real. Sob um prisma imparcial, o diretor
aborda com primor não só a omissão dos governantes norte-americanos, como
também a ignorância da própria comunidade Gay. Explorando com veracidade todas
as mazelas físicas da doença, Murphy foge dos clichês ao nos apresentar o
início do grande surto desta doença. Com um louvável ritmo, toda a concepção e
consolidação desta organização é muito bem desenvolvida, com destaque para o
impacto que cada perda traz para dentro da história. O diretor faz questão de
valorizar o lado humano, dando a todo instante a noção exata de quão destrutiva
era a doença. Contando com a reconhecida intensidade de Mark Rufallo, numa das
grandes atuações da sua consistente carreira, o longa também não deixa de lado
as relações afetivas e amorosas em torno deste processo. Demonstrando
habilidade na construção destes relacionamentos, Murphy se aproveita do
equilibrado e competente elenco de apoio para nos apresentar um trabalho
extremamente profundo, um relato alarmante sobre as mazelas provocadas pela
AIDS em solo norte-americano.
4º Toda Forma de Amor (2010)
Nunca é tarde para começar. Essa é a mensagem do cativante Toda Forma de
Amor, um romance comovente marcado pelas excelentes atuações do trio
Christopher Plummer, Ewan McGregor e
Mélanie Laurent. Através de diálogos sensíveis e uma montagem não linear realmente
intuitiva, o longa dirigido e roteirizado por Mike Mills (do ótimo Mulheres do Século 20) cativa ao narrar a relação entre um retraído filho e o seu pai, um
senhor de 75 anos que após quase cinquenta anos de casado resolveu assumir a
sua homossexualidade. Com uma abordagem franca sobre o tema, Toda Forma de Amor
encanta ao tratar o impacto da revelação sob o prisma mais amplo possível. Indo
além das questões históricas, sabiamente tratadas a partir da narração em off e
das inserções de imagens sobre a origem do movimento gay, Mills é habilidoso ao
investigar não só a jornada de afirmação do vibrante idoso, como também o
impacto da repressão na formação "sentimental" do próprio filho. Na
verdade, por mais que o universo LGBT esteja muito bem representado ao longo da
película, o grande diferencial fica pela sutileza da trama ao investigar a
persona do filho. Acostumado a conviver com uma ausente figura paterna e com a
fria relação entre os seus pais, ele cresceu acreditando que aquilo era uma
relação "comum", um tema brilhantemente explorado durante os
envolventes 100 minutos de projeção. Embora esteja no foco da trama, a relação
entre o filho e a sua nova namorada, uma magnética atriz (Laurent), surge como
uma espécie de agente catalisador ao expor os conflitos mais íntimos do
protagonista e ao propor uma inspirada reflexão acerca da opção sexual do pai.
O resultado é uma abordagem extremamente original sobre as consequências da
repressão. Dito isso, com diálogos marcantes, interpretações singulares e uma direção
estilosa, Toda a Forma de Amor é um romance revigorante, uma obra humana e
sentimental capaz de jogar uma abrangente luz sobre a questão da identidade
sexual e o impacto da discriminação no passado de um magnífico personagem.
3º Hedwig: Rock, Amor e
Traição (2001)
Muito mais do que um simples musical, Hedwig: Rock, Amor e Traição é um
verdadeiro espetáculo de Rock 'n' Roll. Profundo, irreverente e vibrante, o
longa dirigido, escrito e estrelado por John Cameron Mitchell envolve ao
apresentar a instigante jornada de um roqueiro transexual. Recheado de
memoráveis e reveladoras canções, Mitchell esbanja virtuosismo ao investigar a
história deste incrível personagem, adotando uma colorida estética surreal
(quase lisérgica) ao dialogar com situações naturalmente espinhosas. Conduzido
com bom gosto e dignidade, Hedwig dá voz aos simbolismos ao narrar as passagens
mais pesadas da vida da protagonista, apostando em sensíveis e inventivas
metáforas ao passar por temas como a descoberta sexual, a busca pela identidade
e os preconceitos enfrentados por esta magnética rock-star. Em suma, divertido,
emocionante e altamente reflexivo, Hedwig atropela os preconceitos ao desvendar
com absurda transparência as nuances de uma corajosa estrela do rock em
constante transformação. E que trilha-sonora!
2º Moonlight: Sob a Luz
do Luar (2016)
Um pequeno gigante, Moonlight: Sob a Luz do Luar é um filme raro. Dono
de uma voz própria e imponente, o longa dirigido por Barry Jenkins fascina ao
transitar por temas amplamente explorados dentro de um contexto intimista e
absolutamente autoral. Com personagens marcantes e diálogos recheados de
significado, esta realística pérola do cinema independente se revela um relato
profundo sobre a marginalização dos sentimentos, sobre o impacto da repressão na
rotina de um jovem negro e pobre inserido num ambiente opressivo. Impecável ao
expor o círculo vicioso presente neste cenário desigual, o realizador
norte-americano é sutil ao trazer para o centro da trama a questão do
homossexualismo, indo além dos dilemas raciais ao acompanhar o amadurecimento
de uma alma desamparada obrigada a encarar os sufocantes obstáculos impostos
pela miséria e a intolerância. Através de uma abordagem quase naturalista,
Jenkins esbanja delicadeza ao compor esta figura singular, um rapaz moldado
pela realidade que o cerca, nos colocando no olho do furacão ao escancarar os
conflitos mais pessoais por trás deste complexo personagem. Na verdade,
Moonlight trata o espectador como uma espécie de confidente, um compreensivo
ombro amigo, uma relação de intimidade potencializada pelo apurado senso
estético do diretor e pelo primoroso trabalho do promissor elenco.
1º Carol (2015)
Inspirado no romance The Price of Salt, de Patricia Highsmith, Carol
volta ao passado para mostrar uma história de amor e intolerância que ainda
hoje se revela extremamente pertinente. Conduzido com enorme categoria pelo
talentoso Todd Haynes, este elegante romance de época abdica dos melodramas ao
narrar com absoluta sutileza a relação entre duas mulheres dispostas a enfrentar
as consequências de uma paixão proibida. Através de uma abordagem discreta e
intimista, o longa passeia com inspiração por temas naturalmente espinhosos,
encontrando nas estupendas performances Cate Blanchett e Rooney Mara o misto de
elegância e latência que acaba por ditar o ritmo do envolvente argumento.
Brilhante ao explorar também a relação entre a personagem título e o seu
marido, interpretado com inesperada humanidade por Kyle Chandler, este
belíssimo longa extrapola os limites do gênero ao dialogar de forma
completamente honesta com alguns tabus sexuais ainda hoje tratados com extremo
conservadorismo. O resultado é uma obra densa e contida que encanta ao narrar
com extrema elegância a jornada de duas mulheres à frente do seu tempo.
Menções (muito) Honrosas
- Hoje eu Quero Voltar
Sozinho (2014)
Vencedor da Mostra Panorama do Festival de Berlim, Hoje eu quero Voltar
Sozinho é uma luz no fim do túnel para o cinema brasileiro. Em meio à profusão
de produções nacionais nada originais, cada vez mais sugadas diretamente da TV,
o longa é uma prova de que com pouco pode se fazer muito. Acompanhando os
desdobramentos do curta-metragem Hoje eu Não quero Voltar Sozinho, o estreante
em longas-metragens Daniel Ribeiro nos brinda com uma trama extremamente
sensível, lidando de forma tocante com as descobertas da adolescência. Sem o
apoio das grandes produtoras, o diretor consegue repetir o tom autoral do seu
curta, ampliando toda a história do deficiente visual Leonardo e a sua busca
pelo primeiro amor. Carregando uma bem vinda naturalidade, o filme aborda de
forma inspirada as dúvidas, as crises e a insegurança relacionada a essa fase
da vida. Em suma, ao fugir dos clichês envolvendo o relacionamento homossexual,
Hoje eu quero Voltar Sozinho é um daqueles filmes "fadados" a se
tornar o retrato de uma geração. Flutuando muito bem entre a comédia e o
romance, o longa encanta ao dar uma nova roupagem aos dilemas e clichês
envolvendo a adolescência. Sem se prender a preconceitos e estigmas, Daniel
Ribeiro brilha ao não se prender somente às questões amorosas, indo além das
expectativas ao traduzir o processo de amadurecimento e preparação para os
verdadeiros conflitos que a vida pode nos proporcionar.
- Estranha Amizade (2004)
Este vem de longe. Uma pequena e simpática comédia australiana, Estranha
Amizade expõe a ignorância por trás do preconceito ao narrar a curiosa jornada
de dois amigos dentro do universo LGBT. Sob um prisma leve, descontraído e
extremamente respeitoso, o longa dirigido por Dean Murphy cativa ao acompanhar
os passos dos veteranos Ralph e Vince, dois amigos de longa data que resolvem
simular um casamento gay com o propósito de se livrar de uma dívida com o
imposto de renda. Eles, porém, não esperavam que o processo de reconhecimento
da relação fosse tão minucioso. Impulsionado pela ótima química da dupla Paul
Hogan e Michael Caton, Murphy é irreverente ao traduzir a incursão destes
pacatos moradores de uma cidadezinha no universo gay. Com gags inteligentes e
criativas, o diretor num primeiro momento opta pelo choque e brinca ao realçar
a faceta mais extravagante da vida noturna australiana. Num segundo momento,
entretanto, o roteiro se preocupa em construir os divertidos personagens de
apoio, tornando o processo de "adaptação" dos "machões"
divertido aos olhos do público. Nas entrelinhas, inclusive, o longa surpreende
ao construir um singelo 'plot twist', uma virada na trama totalmente condizente
com o pano de fundo tolerante defendido pela película. Como toda boa produção
internacional, aliás, Estranha Amizade logo foi parar nas mãos dos executivos
de Hollywood. O resultado foi o abobalhado Eu os Declaro Marido e Larry (2007),
uma comédia de gosto duvidoso que passa longe do nível de qualidade da bem
intencionada película australiana.
- Ninguém é Perfeito (1999)
Perspicaz ao realçar a ignorância por trás do preconceito, Ninguém é
Perfeito se insurge gentilmente contra a homofobia. Impulsionado pelas ótimas
atuações da dupla Robert De Niro e Philip Seymour Hoffman, o diretor Joel
Schumacher cativa ao criar uma sincera história de amizade entre um policial
"macho alfa" e um extravagante travesti. Com uma direção elegante e
uma abordagem simplificada sobre o tema, o longa é cuidadoso ao revelar os
dilemas de um trans e ao expor o quão irracional é o preconceito sexual. Um
filme que, ao buscar diálogo com todos os públicos, ganhou uma relevância
temática realmente bem vinda.
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