sábado, 15 de novembro de 2014

Debi e Lóide 2

Carrey e Daniels mostram boa forma nesta requentada, porém hilária continuação

Apostando na manutenção das fórmulas que transformaram uma despretensiosa comédia num estrondoso sucesso de popularidade na década de 1990, Debi e Lóide 2 voltam aos cinemas oferecendo aquilo o que os seus fãs esperavam: um besteirol de alta qualidade. Dirigido novamente pelos irmãos Peter e Bobby Farrelly (Eu, eu Mesmo e Irene), Jim Carrey e Jeff Daniels mostram grande vigor em cena ao retornarem, vinte anos depois, aos seus carismáticos e irreverentes personagens. Usando e abusando da escatologia, do humor quase infantil e das muitas referências ao original, esta continuação acaba mostrando que o tempo fez muitíssimo bem a esta inusitada dupla de amigos. Por mais que o argumento não se esforce para apresentar algo realmente novo, as hilárias performances dos protagonistas, combinada com a facilidade dos Farrelly em arrancar risadas através do absurdo, dão a esta continuação uma cara requentada, porém insana e extremamente divertida.

Evitando se distanciar do tom que consagrou Debi e Lóide como um dos maiores lançamentos do ano de 1994, os irmãos Farrelly fizeram desta continuação uma grande ode ao humor do original. Carregando um pouco mais nas gags escatológicas, que mesmo sem ultrapassar o limite do bom senso se mostram repetitivas, e nos clichês que geralmente cercam o gênero, a comédia já se inicia com uma grande piada interna envolvendo esta lacuna de vinte anos entre os dois filmes. Após fingir por todo este período que estava "vegetando" em uma clínica, Lóide (Carrey) resolve colocar fim a sua "grande" pegadinha quando descobre que seu amigo Debi (Daniels) precisa de um transplante de rim. No meio desta busca por um doador, no entanto, Debi vê uma chance quando descobre que poderia ter uma filha perdida, entregue a adoção por uma ex-namorada (Kathleen Turner). Eles descobrem que o nome dela é Penny (Rachel Melvin), que ela tem 22 anos, e que foi adotada por um respeitado cientista. Na expectativa que a jovem pudesse doar um de seus rins, os dois se metem numa enrascada quando se oferecem ao padrasto dela para transportar uma "invenção que poderia mudar o rumo da humanidade". Debi e Lóide então passam a ser perseguidos não só pela interesseira madrasta de Penny (Laurie Holden), como também por seu atrapalhado amante Travis (Rob Riggle).


Se equilibrando entre agradar as novas gerações e atrair os fãs mais nostálgicos, Peter e Bobby Farrelly optam por seguir basicamente a estrutura do primeiro longa, não se levando a sério por um instante sequer. Enquanto no original Debi e Lóide precisavam levar uma pasta recheada de dólares até uma "esquecida" passageira, aqui a pegada "road movie" está de volta com os dois tentando transportar a misteriosa invenção até uma feira de ciências. Nesse meio tempo, aliás, o argumento também não se faz de rogado ao buscar inspiração nos momentos mais icônicos do clássico, incluindo ai os surtados devaneios amorosos de Lóide, o famoso carro cachorro, e a volta do garoto cego Billy. Toda esta fuga do politicamente correto, porém, só ganha realmente peso graças a disposição da dupla Jim Carrey e Jeff Daniels.


Repetindo a invejável química, os dois parecem ter esperado o momento certo para dar vida à esta sequência, deixando claro, cena após cena, que não estavam apenas trabalhando, mas sim se divertindo. Hoje consagrado como ator dramático, principalmente pelo seu papel na série The Newsroom, Daniels volta ao besteirol sem qualquer tipo de pudor, acompanhando de perto a inspirada atuação de Jim Carrey. Em meio as suas populares caras e bocas, Carrey finalmente volta ao humor performático que o consagrou, rendendo sequências impagáveis e nítidos improvisos. Momentos que, diga-se de passagem, são muito bem capturados pelos irmãos Farrelly, que se preocupam em manter a dinâmica despretensiosa envolvendo a relação da dupla de protagonistas.


Ainda que a originalidade não seja o ponto forte desta continuação, Debi e Lóide 2 se aproveita com grande habilidade deste hiato de quase duas décadas ao apostar as suas fichas na manutenção do besteirol absurdo que consagrou o original. Por mais que o longa seja incrementado com algumas novas possibilidades visuais, a cena em que os dois fogem de um tornando é um dos pontos altos desta continuação, é através deste humor inocente, que cisma em não envelhecer, que a sequência consegue superar boa parte das expectativas dos fãs desta carismática dupla de amigos. Até porque, enquanto muitos humoristas e seus filmes seguem a filosofia do "perco amigo, mas não a piada", Jim Carrey, Jeff Daniels e os irmãos Farrelly - mais uma vez - deixam claro que as vezes o melhor é manter a amizade, sem perder a piada.

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