Estrelado por Ricardo Darin, o drama Elefante Branco é um visceral relato sobre a desigualdade social enraizada em boa parte dos países latino americanos. Embora se passe na periferia de Buenos Aires, na Argentina, o diretor Pablo Trapero esbanja categoria ao universalizar os conflitos narrados no longa, transformando o seu drama numa espécie de grito de socorro em defesa dos menos favorecidos. Apostando em uma narrativa crua, que ressalta com frieza a miséria e a violência presente dentro desta comunidade, a película impressiona pela complexidade dos seus personagens.
Nos apresentando essas mazelas sob o ponto de vista de dois engajados padres, Elefante Branco é uma contextualizada crítica às grandes instituições. Questionando a inércia dos políticos e do alto escalão da Igreja, o roteiro é muito feliz ao duvidar da fé dos envolvidos em meio a nítida impotência social. Com argumento assinado pelo próprio Trapero, ao lado de Alejandro Fadel e Santiago Mitre, a trama narra a história do dedicado padre Nicholás (Jérémie Renier). Após presenciar um grande massacre em uma pequena aldeia da Amazônia, onde prestava ajuda humanitária, o clérigo francês é resgatado pelo padre Julian (Ricardo Darin). Ajudando os menos favorecidos da favela de Villa Virgen, periferia marcada pelo trafico de drogas, pelo vício no crack e pela falta de moradias, Julian acaba convencendo Nicholás a ajuda-lo nesta nova empreitada. Liderando a obra de um grande condomínio, que significaria o sonho da casa própria para parte dos moradores, Nicholás e Julian terão que enfrentar a guerra do tráfico, o descaso dos governos e a indignação dos próprios habitantes para ver o seu sonho se tornar realidade.
Se as mazelas proporcionadas pela desigualdade social são muito bem retratadas por Pablo Trapero, com direito a cenas que parecem tiradas dos nossos principais telejornais, o grande mérito do diretor fica pela forma como desenvolve os seus personagens. Engajados e obstinados, Nicholás, Julian e a assistente social Luciana, vivida com intensidade por Martina Gusman, são habilmente desenvolvidos pelo roteiro, permitindo que, em meio a precisa crítica social, seja construída uma sólida história. Apesar de acreditarem que os seus esforços darão frutos àquela comunidade, o trio passa a enfrentar obstáculos que levantam dúvidas, até mesmo, sobre o rumo de sua fé, seja no aspecto religioso, seja no aspecto humano. Evitando tomar partido em meio aos dilemas da periferia, Trapero mostra precisão ao conduzir uma narrativa extremamente imparcial, que procura não julgar ou questionar a complexidade deste ambiente. Sem querer revelar muito, o processo de deterioração dos envolvidos em meio ao cenário desigual em que estão inseridos é construído com contundência, enfatizando bem a degradação emocional, moral e física que os cercam.
Relatando de forma extremamente crível toda a luta daqueles que se engajam pelos interesses das minorias, Elefante Branco se mostra um trabalho necessário. Carregando uma contundente crítica social, o longa capitaneado por Ricardo Darin deveria ser um soco no estômago das autoridades. Uma história que, apesar de não ser real, se inspira no esforço de muitos engajados que acabam lutando pelos direitos ao redor do mundo. Incluindo ai o citado Carlos Mugica, conhecido como "padre do povo", que dedicou a sua vida na tentativa de abolir a desigualdade social na Argentina.
2 comentários:
Não considero que esteja entre melhores filmes argentinos dos últimos tempos, mas vale por mostrar uma face da Argentina que pouco conhecemos, além é claro, do sempre competente Ricardo Darin.
Abraço
Eu já acho este um daqueles trabalhos subestimados Hugo. Claro que o nível anda altíssimo por lá, mas acho este um trabalho extremamente corajoso. Não gosto de precisar se é o melhor, ou não, mas como você disse está na lista dos bons filmes lançados recentemente por nossos vizinhos. Abs Hugo.
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