quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cinemaniac Indica (Quando Éramos Reis)

O gênero documentário é um dos mais subestimados em Hollywood. Apesar de ser categoria em grandes premiações, como o Oscar, os documentários cada vez mais se tornam obras pouco exploradas. O curioso é que apesar de ser "empurrado para baixo do tapete", o gênero tem se tornado moda em Hollywood, como no recentes Distrito 9 e Atividade Paranormal. Ou seja, filmes que se travestem de documentário, mas que na verdade apresentam um história ficcional. Este fato particularmente não consigo entender, até porque se o espectador curte um filme de ficção, que se utiliza da linguagem documental, porque não se identificar com um verdadeiro documentário. Recentemente tivemos até alguns filme que levantaram o gênero na mídia, como os polêmicos Uma Verdade Inconveniente, Fahrenheint 11/09 e o criativo Super Size Me. E para dar uma relembrada em um grande clássico do gênero, a dica de hoje é Quando Éramos Reis, considerado um dos melhores e mais completos documentários já filmados.

Lançado no ano de 1996, o documentário dirigido por Leon Gast acompanha os bastidores de uma das maiores lutas que o mundo do boxe já viu. O histórico embate realizado no ano de 1974 entre o então campeão mundial George Foreman e o engajado\polêmico Cassius "Muhammad Ali" Clay. Para quem não sabe, esta foi uma luta que ultrapassou o aspecto esportivo. Organizada por uma das figuras mais controversas do mundo das lutas, o empresário Don King, a luta foi disputada no Zaire, uma nação na época comandada pelo ditador Mobutu, acompanhada por uma série de eventos musicais, com astros do quilate de James Brown, B.B King e Miriam Makeba. Exaltando a cultura negra, tão defendida por Ali, o evento se tornou um símbolo da luta pela igualdade racial.

Sabendo explorar a incrível história por trás deste evento, o documentário envolve não só os bastidores da própria luta, mas do evento como um todo, focando nos principais personagens e explorando a participação de cada um deles na grande luta. Com depoimentos brilhantes e imagens realmente espetaculares, Quando éramos Reis consegue chegar aonde nunca nenhuma cinebiografia foi. Com acesso a diversas imagens dos bastidores, o filme traz depoimentos exclusivos dos personagens da luta, mostrando a ideologia de cada um deles. Apesar de focar na história por trás do evento, Quando éramos Reis é uma clara homenagem ao grande Ali, um grande lutador, que não só se prendeu as questões esportivas, mas a todo o contexto ideológico vivido na época. Mostrando depoimentos de extrema personalidade, o filme revela todo o engajamento do lutador, com questões raciais, e pela defesa da igualdade dos direitos nos EUA. Como um grande orador, todas os depoimentos soam de forma brilhante e mostra a imensa figura que foi Ali.

Apesar de explorar muito esta ideologia por traz do evento, o diretor Leon Gast não se ilude e consegue mostrar para o espectador os dois lados da moeda. Se para Ali o evento era muito mais do que uma simples luta, para outros personagens como Don King, Foreman e Mobuto a luta era mais um grande evento comercial. Sem se preocupar com a imagem apresentada, o diretor mostra a realidade e os "verdadeiros" interesses para cada um dos personagens apresentados. Repleto de opiniões de pessoas que presenciaram a luta, o filme traz imagens e informações que até então não eram comentadas, revelando para o espectador situações que dão ainda mais status a este grande evento.

Além de tudo isto, apesar do tom documental, o filme tem uma narrativa muito bem definida, que se assemelha a muitos filmes de Boxe. Mantendo o clima da luta desde as primeiras cenas, o longa tem montagem extremamente atrativa, que se difere a muitos longas do gênero documentário. Misturando as apresentações musicais às lutas e a muitos depoimentos, o longa tem um excelente ritmo e ganha um desfecho numa luta de "arrepiar". Enfim, trazendo um pouco da fantástica história de Muhammad Ali, Quando Éramos Reis é mais do que um grande filme. É um relato histórico.

Por que assistir ?

- Pela fantástica história por traz do evento.
- Pela discussões de temas altamente contextualizados, como o preconceito e a igualdade racial.
- Pelas "raras" imagens da luta apresentada.

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