O prêmio da Academia de Artes e ciências cinematográficas chega a sua nonagésima edição procurando se renovar. Após uma enxurrada de críticas envolvendo a falta de representatividade, os membros votantes parecem ter reparado alguns equívocos dos últimos anos, rejuvenescendo a lista de indicados ao reconhecer a qualidade dos trabalhos de jovens como Greta Gerwig, Daniel Kaluuya, Saoirse Ronan, Timothée Chalamet, Margot Robbie e Jordan Peele. Ao longo da sua história, porém, os "velhinhos" da Academia se acostumaram a premiar algumas "figurinhas repetidas", realizadores que, graças ao seu refinado trabalho, se tornaram referências dentro desta importante premiação. Neste artigo especial, portanto, conheça um pouco mais sobre os quinze maiores vencedores da história do Oscar.
- John Ford (4 Oscars - 6 Indicações)
Um dos maiores realizadores da sua geração, John Ford se tornou referência dentro do cinema americano. Responsável por grandes produções, o norte-americano ganhou status graças aos seus populares Westerns, entre eles o clássico dos clássicos, o épico No Tempo das Diligências (1939). Dono de obras respeitadas, Ford levou as suas quatros estatuetas por O Delator (1935), Vinhas da Ira (1940), Como Era Verde o Meu Vale (1941) e Depois do Vendaval (1952). Todos prêmios de Melhor Diretor.
- Francis Ford Coppola (5 Oscars - 14 Indicações)
O pai de uma das maiores trilogias da história da Sétima Arte, Francis Ford Coppola se tornou um dos símbolos da Nova Hollywood. Ao contrário de nomes igualmente reconhecidos, como o célebre Martin Scorsese, entretanto, Coppola desde o início da sua carreira teve os seus trabalhos premiados pela Academia. Ele levou a sua primeira estatueta em 1971, como roteirista de Patton: Herói ou Rebelde. Foi com o clássico O Poderoso Chefão (1973), porém, que ele escreveu seu nome na história da Academia. Com o primeiro Godfather (no original) veio o Oscar de Melhor Roteiro. Com O Poderoso Chefão 2 (1975) vieram os Oscars de Melhor Roteiro, Melhor Direção e Melhor Filme. Além disso, em 2011, Francis Ford Coppola levou um o prêmio Irving Thalberg, um Oscar honorário pelo conjunto da sua obra.
- Johnny Green (5 Oscars - 14 Indicações)
Compositor de alguns clássicos de Hollywood, Johnny Green marcou presença na premiação entre as década de 1940 e 1970. Com uma carreira sólida fora do cinema, o músico trilhou um caminho de sucesso em Hollywood, conquistando o seu prestígio em títulos como Oliver! (1968), West Side Story (1961), Sinfonia de Paris (1951) e Desfile de Páscoa (1948).
- Lyle R. Wheeler (5 Oscars, 27 indicações)
Um respeitado diretor de arte, Lyle Wheeler marcou presença na premiação entre as décadas de 1930 e 1960. Ao longo de mais de trinta anos, ele trabalhou em clássicos do quilate de O Prisioneiro de Zenda (1937), Rebecca (1940), A Malvada (1950), Titanic (1953) e Viagem ao centro da Terra (1959). Os seus prêmios, porém, vieram com O Diário de Anne Frank (1959), O Rei e Eu (1956), O Manto Sagrado (1953), Anna e o Rei de Sião (1946) e o épico ...E o Vento Levou (1939). Que filmografia.
- John Williams (5 Oscars, 51 Indicações)
O que falar sobre John Williams. Esse dispensa comentários. Em plena atividade após seis décadas, o compositor transitou entre os gêneros com enorme maestria, indo dos clássicos aos filmes mais populares sempre com originalidade e grandes trabalhos. Responsável por verdadeiros hinos da Sétima Arte, entre eles os hits de títulos como Indiana Jones, Harry Potter, Jurassic Park e Superman, Williams levou as suas estatuetas por A Lista de Schindler (1994), E.T: O Extraterrestre (1982), Star Wars: Uma Nova Esperança (1977), Tubarão (1976) e Um Violinista no Telhado (1971). Williams que, aliás, está entre os indicados ao Oscar 2018, na categoria Melhor Trilha Sonora por Star Wars: Os Últimos Jedi.
- Dennis Muren (6 Oscars, 16 Indicações)
Um mestre na arte dos efeitos visuais, Dennis Muren é um daqueles realizadores que não conquistaram o reconhecimento merecido. Um dos grandes parceiros da dupla George Lucas\Steven Spielberg, o virtuoso diretor de efeitos especiais se tornou uma peça chave para a evolução do CGI, emprestando o seu talento para títulos do porte de Star Wars: O Império Contra-Ataca (1981), E.T: O Extraterrestre (1982), Indiana Jones: E o Templo da Perdição (1984), Viagem Insólita (1987), O Segredo do Abismo (1989), O Exterminador do Futuro 2 (1991), Jurassic Park (1993), AI: Inteligência Artificial (2001), dentre muitos outros.
- Billy Wilder (6 Vitórias, 20 indicações)
Responsável por alguns dos maiores filmes americanos nos anos 1950 e 1960, Billy Wilder se tornou um dos maiores diretores\roteiristas da história da Sétima Arte. Reconhecido pela sua ironia refinada e pela sua originalidade, o realizador se acostumou a tirar do papel verdadeiras crônicas cinematográficas, discorrendo sobre temas recorrentes da sua geração com originalidade e senso de humor. Foi assim com os vencedores do Oscar Farrapo Humano (1949), Crepúsculo dos Deuses (1950), Se Meu Apartamento Falasse (1960). Esse último, aliás, deu a Wilder três das suas estatuetas, já que o longa faturou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro. Além disso, o diretor tirou do papel clássicos do quilate de Quanto mais Quente Melhor (1959), Testemunha de Acusação (1957), A Montanha dos 7 Abutres (1951) e Ninotchka (1939). Que carreira de sucesso.
- Gary Rydstrom - (7 Oscars, 18 Indicações)
O nome mais novo da lista, Gary Rydstrom está entre os realizadores mais premiados no que diz respeito as categorias técnicas. Nascido em 1959, o sonoplasta norte-americano, grande parceiro da dobradinha Steven Spielberg\James Cameron, conquistou o seu prestígio graças ao trabalhar no design de som de títulos do porte de Exterminador do Futuro 2 (1992), Jurassic Park (1993), Titanic (1997) e O Resgate do Soldado Ryan (1999). Ele, aliás, tentou a sorte como diretor na animação Magia Estranha (2015), mas não repetiu nesta função o mesmo sucesso dos seus trabalhos como sonoplasta.
- Rick Baker (7 Oscars, 12 Indicações)
Um mestre na arte da maquiagem, Rick Backer resgatou uma velha tradição do cinema norte-americano ao criar alguns dos personagens monstruosos mais marcantes das últimas décadas. Dono de sete estatuetas douradas, o realizador se tornou referência dentro do segmento em trabalhos como Um Lobisomem Americano em Londres (1981), Um Hóspede do Barulho (1987), Ed Wood (1994), MIB: Homens de Preto (1997), O Grinch (2000) e o recente O Lobisomem (2010). Como não lembrar, por exemplo, da magnífica transformação de Um Lobisomem Americano em Londres, indiscutivelmente, uma das mais icônicas da história do cinema de horror.
- Fred Quimby - (8 Oscars, 14 Indicações)
A frente do departamento de animação da MGM, o produtor\animador Fred Quimby tirou do papel alguns dos maiores clássicos dirigidos pela dupla Hannah Barbera, entre eles os populares curtos da dupla Tom e Jerry. Numa época em que os curtas animados eram bem mais populares, vide o primeiro recordista máximo desta lista, Quimby ajudou a construir o legado destes dois populares personagens que, com o advento da TV, permanecem até hoje no dia a dia da criançada. Dentre os seus trabalhos estão os clássicos curtas The Two Mouseketeers (1951), Dr. Jekyll and Mr. Mouse (1947) e The Cat Concerto (1947).
- Alan Menken (8 Oscars, 19 Indicações)
Um dos pilares da retomada da Disney na década de 1990, o compositor Alan Menken se colocou entre os gigantes ao embalar alguns dos maiores e mais populares clássicos do estúdio. Responsável por hits do sucesso de Under the Sea, do querido A Pequena Sereia (1989), de Beauty and Beast, do clássico A Bela e A Fera (1991), de A Whole New World, do fantástico Aladdin (1992) e de Colors of the Wind, do forte Pocahontas (1995). Todos trabalhos premiados com a tão cobiçada estatueta dourada. Isso que eu chamo de uma seleção de hinos da animação.
- Edith Head (8 Oscars, 35 Indicações)
A única mulher da lista, Edith Head ficou conhecida como uma das maiores figurinistas da história da Sétima Arte. Ao longo de sete décadas, esta virtuosa estilista ajudou a refinar algumas grandes produções, acompanhando as transformações sociais (e porque não ditando moda) em trabalhos do status de Tarde Demais (1949), A Malvada (1950), Sansão e Dalila (1950), Um Lugar ao Sol (1951), A Princesa e o Plebeu (1953), Sabrina (1954), Um Corpo que Cai (1958), O Homem que Matou Facinora (1962), Butch Cassidy (1969), Golpe de Mestre (1973) e muitos outros. Em 1950, aliás, Edith Head ganhou as duas estatuetas douradas disponíveis na categoria, tanto nas produções à cores (Sansão e Dalila), quanto nos filmes em preto e branco (A Malvada). O triunfo de Head se tornou tão marcante que, duas décadas após a sua morte, Brad Bird decidiu homenagear esta grande realizadora usando as suas feições na personagem Edna Mode, a figurinista que desenha os uniformes desta família superpoderosa. Que sacada e que reverência a uma mulher à frente do seu tempo.
- Alfred Newman (9 Oscars, 45 Indicações)
O compositor com o maior número de estatuetas dourada da história da Academia, Alfred Newman emprestou a sua sensibilidade para verdadeiros clássicos dos anos 1940, 1950 e 1960. Oriundo do Jazz, ele ganhou a sua primeira indicação com O Prisioneiro de Zenda e O Furacão (1938), o seu primeiro Oscar por A Epopéia do Jazz (1939) e, nas duas décadas seguintes, marcou presença na cerimônia ininterruptamente até o ano de 1960. Sim, foram 22 indicações seguidas, um recorde difícil de se compreender nos dias de hoje. Nesse meio tempo, ele embalou clássicos do porte de O Corcunda de Notre Damme (1939), A Vida é uma Canção (1940), Como Era Verde o Meu Vale (1941), A Canção de Bernadette (1943), A Malvada (1950), Meu Coração Canta (1952), O Rei e Eu (1956) e O DIário de Anne Frank (1959). Além disso, Newman espalhou o seu "DNA musical" por Hollywood nos anos seguintes, já que o seu irmão Lionel Newman (Alien: O Oitavo Passageiro), seus filhos David Newman (A Era do Gelo) e Thomas Newman (Wall-E) e o seu sobrinho Randy Newman (Toy Story) seguiram os seus passos e se tornaram grandes compositores.
- Cedric Gibbons (11 Oscars, 39 Indicações)
Um dos fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o diretor de arte Cedric Gibbons dominou a sua categoria numa época em que o cinema enfrentava a sua segunda grande transformação. Ao longo das décadas de 1920, 1930, 1940 e 1950, ele se tornou referência no quesito graças a títulos como A Ponte de San Luis Rey (1929), Romeu e Julieta (1936), O Mágico de Oz (1939), Orgulho e Preconceito (1940), Gaslight (1941), Madame Bovary (1949), Quo Vadis (1951), Sinfonia de Paris (1951), Julio César (1953), Marcado pela Sarjeta (1956), Sede de Viver (1956) e outros inúmeros clássicos.
- Walt Disney (22 Oscars, 59 indicações)
E o recordista dos recordistas não podia ser outro. Fundador de um dos estúdios mais respeitados e rentáveis da história da Sétima Arte, Walt Disney dominou o segmento da animação numa época em que os curtas animados eram mais populares do que alguns filmes. Produtor de alguns dos maiores clássicos do gênero, entre eles os inesquecíveis Bambi (1942), Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Fantasia (1940), Disney coordenou algumas das maiores produções do estúdio entre os anos 1930 e 1950, preparando o terreno para a consolidação de uma marca que insiste em se renovar. Em 1932, inclusive, Walt recebeu um Oscar honorário pela criação do personagem Mickey Mouse, um simpático ratinho que viria a se tornar o símbolo desta poderosa companhia.
- Curiosidades
Uma mulher a frente do seu tempo, Katharine Hepburn é a atriz com o maior número de estatuetas douradas. Ela recebeu quatro prêmios por Manhã de Glória (1933), Adivinha quem Vem para o Jantar (1967), O Leão no Inverno (1968) e Num Lago Dourado (1981).
Entre os homens, Daniel Day-Lewis, Jack Nicholson e Walter Brennan lideram a lista individual com três estatuetas cada. O primeiro por Meu Pé Esquerdo (1990), Sangue Negro (2007) e Lincoln (2012), o segundo por Um Estranho no Ninho (1975), Laços de Ternura (1983) e Melhor É Impossível (1997), e o terceiro por Meu Filho é Meu Rival (1936), Romance do Sul (1938) e O Galante Aventureiro (1940). Este último, aliás, faturou os seus três prêmios na categoria Melhor Ator Coadjuvante.
Meryl Streep e Ingrid Bergman também possuem três estatuetas cada, a primeira por Kramer Vs Kramer (1979), A Escolha de Sophia (1982) e A Dama de Ferro (2011), e a segunda por Gaslight (1944), Anastasia (1956) e Assassinato no Expresso Oriente (1974).
Apenas três filmes venceram as cinco principais categorias (Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro). Foram eles Aconteceu Naquela Noite (1935), Um Estranho no Nnho (1976) e O Silêncio dos Inocentes (1992).
Já Titanic (1997), O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003) e Ben-Hur (1959) são os maiores vencedores numa só edição com 11 estatuetas cada.
Quando o assunto é a idade, enquanto a atriz Shirley Temple ganhou uma estatueta honorária pelos seus serviços em tempos de crise aos 6 anos, Christopher Plummer é o ator mais velho a levar uma estatueta. Aos 82 anos, ele conquistou o Oscar de Melhor Ator coadjuvante por seu trabalho no ótimo Toda Forma de Amor. É bom frisar, aliás, que ele está novamente na lista de indicados em 2018 por seu trabalho em Todo Dinheiro do Mundo.
Um dado que segue incomodando os membros votantes da Academia, Katherine Bigelow foi a primeira e a única mulher a levar o Oscar de Melhor Direção, prêmio concedido pelo seu excelente trabalho no intenso Guerra ao Terror. Entre 1928 e 2018, aliás, apenas cinco mulheres foram indicadas nesta importante categoria, são elas Sofia Coppola por Encontros e Desencontros (2004), Jane Campion por O Piano (1994), Lina Wertmüller por Pasqualino e Suas Belezas (1977) e Greta Gerwig por Lady Bird (2018).
Quando o assunto é racial, porém, a Academia se antecipou ao reconhecer o talento dos realizadores negras. Numa época em que a segregação ainda imperava em algumas regiões dos EUA, Hattie McDaniel levou o Oscar de Melhor Atriz coadjuvante por ...E o Vento Levou (1939). Ao longo de nove décadas, entretanto, apenas quatorze atores negros tiveram a oportunidade de levar a estatueta dourada, entre eles Sidney Poitier por Uma Voz nas Sombras (1963), Louis Gosset Jr. por A Força do Destino (1982), Denzel Washington por Tempos de Glória (1989) e Dia de Treinamento (2001), Whoopi Goldberg por Ghost (1990), Morgan Freeman por Menina de Ouro (2004), Viola Davis por Um Limite entre Nós (2017), Halle Berry por A Última Ceia (2001). Essa última, aliás, se tornou a primeira mulher negra a ganhar o Oscar de Melhor Atriz.
Nos últimos anos, por outro lado, os latino-americanos têm roubado a cena no Oscar. Na última década, nomes como os dos mexicanos Alejandro G. Iñarritu, Alfonso Cuaron, Emmanuel Lubezki, Rodrigo Prieto, Guillermo del Toro e o chileno Claudio Miranda "dominaram" as categorias de Melhor Direção e Melhor Direção de Fotografia. Desde 2012 estes dois quesitos trouxeram, ao menos, um representante deste grupo. Nesse meio tempo, Iñarritu levou quatro estatuetas douradas por O Regresso e Birdman, Lubezki três por Gravidade (2013), Birdman (2014) e O Regresso (2015), Cuarón duas por Gravidade (2013) e Miranda um por As Aventuras de Pi (2012).
Já os brasileiros não vêm tendo a mesma sorte. Ao longo de nove décadas apenas sete produções nacionais marcaram presença na premiação, são elas O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que é isso companheiro? (1997), Central do Brasil (1999), Uma História de Futebol (2001), Cidade de Deus (2004) e O Menino e O Mundo (2016). Nenhuma vitória. Individualmente, nomes como o compositor Ary Barroso (trilha do filme Brazil), a atriz Fernanda Montenegro (Central do Brasil), o diretor Fernando Meirelles (Cidade de Deus), o também diretor Carlos Saldanha (Rio, Touro Ferdinando), os músicos Sérgio Mendes e Carlinhos Brown (Rio), o diretor João Jardim (Lixo Extraordinário), o diretor Juliano Salgado (O Sal da Terra) e o produtor Rodrigo Texeira (Me Chame pelo seu Nome) também conseguiram indicações, mas não saíram vencedores.
Mas uma realizadora com certidão brasileira já levou uma estatueta dourada. A diretora de arte ítalo-australiana-brasileira Luciana Arrighi levou um Oscar na categoria por seu trabalho em Retorno a Howard's End (1992). Filha de uma australiana e um italiano, ela nasceu no Brasil, mas foi criada e educada na "terra dos cangurus". Confesso que essa eu não sabia e só fui descobrir durante o processo de pesquisa.
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