Desde o primeiro longa da série Madagascar (2005), o quarteto Capitão, Kowalski, Rico e Recruta já roubava a cena sempre que estava nela. Afinal de contas, não é todo dia que os roteiristas tem a genial ideia de apresentar carismáticos pinguins agindo como espiões\militares. Em uma franquia onde os coadjuvantes sempre tiveram lugar de destaque, vide o sucesso do excêntrico Rei Julian, dos sindicalizados macacos e do leão-marinho Stefano, os quatro seguiram se destacando nas duas sequências, conseguindo uma elogiada série solo e, praticamente dez anos depois da primeira aparição, o merecido e extremamente divertido derivado Os Pinguins de Madagascar. Apostando num humor altamente debochado, o que já fica nítido desde a sequência inicial, quando conhecemos a sua origem e a forma como eles deixam a previsível marcha dos pinguins para viver uma vida de aventuras, o longa dirigido por Simon J. Smith e Eric Darnell é certeiro ao capturar a essência que consagrou estes quatro personagens. Uma animação que, mesmo sem a profundidade de outros lançamentos da própria Dreamworks, oferece aquilo que o seu público se acostumou a ver.
Se iniciando logo após o terceiro capítulo da franquia Madagascar, os pinguins Capitão, Kowalski, Rico e Recruta se mostram incomodados com a vida no Circo. Com saudades da rotina de espionagem e missões impossíveis, eles resolvem comemorar o aniversário do Recruta invadindo o intransponível forte Knox, lugar que guardava não só o ouro dos EUA, mas também a última máquina do biscoito predileto do grupo. Lá, no entanto, eles são capturados pelo invejoso Dave, um maléfico e atrapalhado polvo que já os conhecia de um passado não muito distante. Em meio a um gigantesca fuga pelas ruas de Veneza, o Capitão e a sua turma acabam "esbarrando" com os agentes da "Vento do Norte", uma organização secreta protetora dos animais. Liderada pelo convencido e perfeccionista lobo Secreto, o grupo acaba subestimando a habilidade do quarteto, iniciando assim uma rivalidade de grandes proporções. Situação que, diga-se de passagem, é potencializada quando os verdadeiros planos de Dave são revelados, fazendo com que os dois líderes deixem os seus egos de lado e trabalhem juntos para salvar a fofura de todos os pinguins do mundo.
Fugindo completamente do humor genérico e das sequências de ação preguiçosas, os roteiristas John Aboud e Michael Colton são precisos ao tirar proveito da dinâmica do quarteto ao longo das ágeis 1 h e 35 min de projeção. Ainda que muitas das gags visuais sejam voltadas à criançada, o que fica nítido com o destaque dado ao fofo e inocente Recruta e a repetição de algumas situações, o roteiro mostra certa dose de ousadia ao fazer questão de manter o já conhecido humor ácido deste quarteto, dialogando também em muitos momentos com o público adulto. Prova disso é a hilária e já citada sequência inicial. Explorando principalmente a espontaneidade dos pinguins, que se mostram capaz de bolar os planos mais mirabolantes das formas mais improváveis, o argumento empolga quando contrasta o modo de agir destes dois grupos. Enquanto os pinguins agem sempre por impulso e improviso, rendendo sequências espetaculares como a da queda de um avião, os membros do "Vento do Norte" são completamente cerebrais, atuando de forma extremamente calculista em suas missões. Diferenças que colaboram na introdução destes novos personagens, que mesmo não sendo tão carismáticos como os pinguins, acabam funcionando dentro do que a trama propõe. Com destaque para o egocêntrico lobo Secreto e para o afetuoso urso Corporal.
Se o humor nonsense dos pinguins segue sendo o ponto alto da trama, o argumento se mostra simples e previsível. Em meio as criativas sequências de ação, potencializadas pelo ótimo senso de simultaneidade dos diretores e pela caprichada animação, que se aproveita das características dos animais para incrementar os seus respectivos personagens, a história não foge do lugar comum, requentando fórmulas e apostando no "bom e velho" final edificante. Por mais que a opção de se concentrar na redenção do Recruta se mostre realmente interessante, não só pelo fato da fofura dos pinguins ser alvo do curioso vilão Dave, mas também por ele não se enxergar como um igual por sua falta de sagacidade, o argumento não consegue dar contornos originais a esta premissa. Ao menos, os próprios roteiristas sabem brincar com as lições de moral, dando uma considerável descontraída no leve e descompromissado clímax.
Contando ainda com um eficiente 3-D, funcional principalmente nas cenas mais vertiginosas, Os Pinguins de Madagascar comprova a força dos personagens criados pela Dreamworks. Até porque, como se não bastasse o divertido leão Alex, a hipocondríaca girafa Melman, a carismática zebra Marty, a afetuosa hipopótamo Glória e o expansivo Rei Julian, que faz uma bem vinda participação na cena pós-crédito, a franquia surpreende ao mostrar fôlego através dos debochados e vibrantes Capitão, Roco, Kawalski e Recruta. Um longa concebido para todos os públicos, mas que se destaca graças as frenéticas e empolgantes sequências de ação, ao inesgotável carisma dos protagonistas e ao humor nonsense que - em muitas cenas - parece dialogar melhor com o público adulto. Nada que, no entanto, a fofura de um Recruta não possa resolver.
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