Contando com uma grande atuação do ótimo Michael Shannon, popularmente conhecido como o General Zod de O Homem de Aço, O Abrigo é um daqueles filmes que verdadeiramente surpreende o espectador. Dirigido pelo promissor Jeff Nichols, que neste ano de 2013 recebeu elogios pelo ótimo Amor Bandido, o longa é um dos melhores exemplares dentro do chamado suspense psicológico. Aquele que realmente mexe com a cabeça do espectador, que nos coloca em dúvida sobre a veracidade dos fatos que são apresentados. Apostando em uma abordagem psicológica, mas que flerta também com o tom religioso, O Abrigo consegue criar um clima de tensão a partir de um personagem nitidamente perturbado.
Na trama, assinada pelo próprio Nichols, Michael Shannon vive Curtis, um pai de família do interior que, em meio à crise que assola os EUA, parece levar uma vida tranquila. Chefe de obras de uma construtora local, Curtis vive ao lado da esposa Samantha (Jessica Chastain) e de sua pequena filha Hannah (Tova Stewart), que desde o seu nascimento sofre com um problema de surdez. Após algumas tentativas de tratamento para a filha, Curtis consegue junto ao plano de saúde de seu trabalho a aprovação para a operação que a pequena Hannah tanto precisa. Tudo muda, no entanto, quando Curtis passa a conviver com uma série de terríveis pesadelos, que o colocam em meio a uma tempestade, trazendo perigo não só para ele como também para sua família. Atormentado por esses sonhos, Curtis passa a colocar em cheque o seu futuro, principalmente em função do passado esquizofrênico de sua mãe. Obcecado com esta tempestade, ele resolve investir o seu tempo na ampliação do seu abrigo anti-tempestades, mas essa postura acaba chamando a atenção dos amigos e de sua família.
Em cima desta interessante trama, Jeff Nichols apresenta uma excelente trabalho na condução do longa, principalmente no que diz respeito ao casal Curtis e Samantha. O realizador consegue investigar os dilemas envolvendo os problemas de Curtis, sem esquecer de se aprofundar na relação entre marido e mulher, construindo um arco naturalmente instigante. O grande mérito da película, no entanto, fica pela primorosa atuação de Michael Shannon. Um dos mais expressivos atores da atualidade, Shannon cria um personagem enigmático, frágil e extremamente complexo. Sem querer revelar muito, é incrível ver como ele altera a sua expressão ao longo do filme, as vezes em uma mesma cena, indo do amoroso ao ameaçador em questão de segundos. Vide o seu raivoso rompante de fúria durante uma festa, sem dúvidas, uma das sequências mais intensas do longa. Shannon mostra ainda uma ótima química com a atriz Jessica Chastain, que conseguiu uma rápida ascensão em Hollywood. Desde o sucesso em Árvore da Vida, de 2011, a norte-americana protagonizou Histórias Cruzadas (2011), Os Infratores (2012), A Hora Mais Escura (2012) e Mama (2013), além de estrelar os ainda inéditos Miss Julie (2014) e Interstellar (2014), o novo longa do cultuado diretor Christopher Nolan,. Aqui, apesar do filme ser praticamente de Shannon, Chastain tem um ótimo desempenho, servindo de suporte para os momentos mais dramáticos.
Com intensas atuações também do elenco de apoio, principalmente da jovem Tova Stewart e de Shea Whigham (O Lado Bom da Vida), O Abrigo é um daqueles longas que sugam a atenção do espectador para dentro da trama. Um trabalho expressivo, que lida muito bem com questões psicológicas, flerta constantemente com o suspense e nos brinda com um desfecho original e surpreendente. Mais um belo trabalho deste diretor que merece uma atenção maior por parte do grande público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário