sábado, 15 de maio de 2010

Cinemaniac Indica (Bastardos Inglórios)

"Cara. Acho que está é a minha Obra Prima...". A frase final dita pelo canastrão personagem de Brad Pitt é muito mais do que o simples encerramento de Bastardos Inglórios. É um resumo do que é o mais novo trabalho de Quentin Tarantino. Conseguindo aliar toda a violência, comum em seus trabalhos, à uma trama imprevisível e um excelente elenco, o diretor faz de Bastardos Inglórios uma das obras mais criativas e saborosas dos últimos anos. Além disto, nos propicia um "Grand Finale" como há muito não se via em Hollywood.

Depois de centenas de filmes sobre a 2ª grande guerra mundial, precisava aparecer um diretor como Quentin Tarantino para dar uma nova roupagem aos filmes do gênero. Esquecendo parcialmente, diga-se de passagem, do conteúdo histórico deste triste período, Tarantino traz para o cinema uma obra digna de sua criatividade e talento. Muitos podem torcer o nariz para a violência apresentada em algumas cenas, mas quem nunca pensou em tomar aquelas atitudes, após assistir filmes como A Vida è Bela e A Lista de Schindler. Sabendo deste espírito vingativo alimentado pelo espectador, Tarantino muda o andamento histórico e oferece aquilo que ele gostaria de ver. Um grupo armado, formado todos por Judeus, que tinham como único prazer o fato de matar alemães.

Porém, não se engane. Bastardos Inglórios não se resume a apenas isto. Dividida por capítulos, semelhantes a uma obra literária, Tarantino foge completamente das previsibilidades. Por mais que a história pareça simples, a trama escapa do "lugar comum", apresentando o desenvolvimento de cada grupo de personagens, separadamente, explicando como todos terão responsabilidade no épico Grande Finale descrito acima. Utilizando uma mistura de gêneros, como o drama, a ação e a comédia, o roteiro produzido pelo próprio Tarantino é um dos melhores já feitos nesta década. Com diálogos brilhantes, que apesar de longos não deixam de prender a atenção do espectador, o diretor conduz o filme de maneira suave. Explorando a força dos personagens, o diretor consegue atribuir características interessantes, e por que não peculiares, a cada um deles. A começar pelo ótimo Coronel Hans Landa, brilhantemente interpretado por Cristoph Waltz. O grande vilão do filme, é um cara doce, culto e educado que praticamente não se altera ao longo do filme. Já o heroico Tenente Aldo Reine, numa das melhores atuações de Brad Pitt, é justamente o oposto. Cruel, sanguinário e altamente grosseiro, Reine é o maior exemplo de todo o controverso e criativo estilo apresentado em Bastardos Inglórios.

Bastardos se passa ao longo da 2ª Guerra, durante a ocupação Nazista na França. Cansados de verem os seus semelhantes mortos através da crueldade alemã, um grupo de soldados de origem Judaica formam a mílicia intitulada Bastardos Inglórios. Sob o comando do tenente Aldo Raine (Brad Pitt) o grupo tem o como único objetivo matar o maior número de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente aos ataques, a jovem Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que fuja para Paris. Lá ela se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja um meio de se vingar.

Se a trama é um dos muitos pontos altos do filme, o elenco é o maior acerto do longa. Principalmente a opção por Cristoph Waltz como vilão do longa. Com uma das grandes atuações das últimas décadas o ator, responsável pelo único Oscar de Bastardos, brilha do início ao fim. Com uma entrega pouco vista, Waltz carrega em seu personagem o peso de representar toda a maldade nazista, aos olhos de Tarantino. E consegue isto já em sua primeira participação. Flutuando de maneira precisa entre as diversas facetas da trama, Waltz acaba se tornando o maior destaque de todo o elenco. Mas não pense você que isto é um demérito do restante do elenco. Pelo contrário, já que Bastardos também conta com excelentes atuações de Brad Pitt (Sete Anos no Tibet), impagável como o tenente Aldo Reine, dos ótimo Eli Roth (Prova da Morte) e Daniel Brühl (Adeus Lênin), da surpreendente Mélanie Laurent (Indigènes), e da belíssima Diane Kruger (A Lenda do Tesouro Perdido), que talvez tenha também a melhor atuação de sua carreira.

Apesar do roteiro fluir com suavidade impar, o visual e a musicalidade de Bastardos mostram todo o contraste pensado e usualmente utilizado por Tarantino. Sabendo que esta não seria apenas mais uma obra do gênero, o diretor conduz o filme de maneira fragmentada e repleta de ritmo. Se a primeira grande cena praticamente não tem cortes, a apresentação dos Bastardos é completamente oposta, repleta de flashbacks, que mostram os feitos dos principais membros do grupo e o porque dos seus apelidos. Sem perder o seu estilo de filmar, o diretor não peca no visual do longa, conseguindo talvez o seu trabalho mais primoroso neste sentido. Com excelente fotografia de Robert Richardson e uma reconstrução dos cenários completamente contextualizada, o diretor mostra que não pode ser visto apenas como uma figura controversa. Além do visual empolgante, o filme nos brinda com uma trilha sonora sufocante, que só contribui para o clima de cada cena, com efeitos especiais de primeira linha e com um figurino otimamente pensado, repleto de cores vivas que oferecem ainda mais vida a cada personagem.

Extremamente criativo, a impressão deixada ao assistir Bastardos Inglórios é que todos, desde o diretor até o sujeito responsável pelos cafezinhos, deram o seu máximo para o filme. E o resultado é uma das melhores obras desta década, e talvez da carreira de Quentin Tarantino. Pensando bem, talvez a frase dita no final do longa não represente apenas o que senti ao assistir Bastardos Inglórios, mas sim a opinião do próprio Tarantino ao ver o seu trabalho pronto. Grande filme, que apesar da violência, vai agradar a todo o público.

Por que assistir ?

- Pelo ótimo conjunto da obra.

7 comentários:

Bruno Cunha disse...

Tarantino não desaponta!
Para mim, dos três melhores filmes de 2009.
Toda a obra é espectacular.

Abraço
http://www.youtube.com/watch?v=9q_K2zdDWX8

Hugo disse...

Com certeza é um filme com a cara de Tarantino, os personagens, os diálogos e a violência tem sua assinatura.

Gostei do filme, mas ainda prefiro "Pulp Fiction".

Abraço

Amanda Aouad disse...

Tarantino sabe o que faz, não há dúvidas. Bastardos é uma aula de cinema. Ainda assim, dele, eu continuo venerando Cães de Aluguel. Alguém conseguir segurar um roteiro de ação dentro de um galpão, para mim foi explêndido.

Jardel Nunes disse...

Vou concondar com a Amanda aí... Cães de Aluguel ainda continua sendo a obra prima do Tarantino, mas Bastardos assume um 2º lugar com muitos méritos!!
O grande injustiçado do último Oscar, tanto em melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro... Além do prêmio do Waltz (que era certo já, se ele não ganhasse ia ser "marmelada" hehe) eu ainda gostaria de ver o Brad Pitt com uma indicação ein... a muito tempo eu não ria tanto quanto aquela cena dos italianos, sensacional..
Tarantino é um dos gênios da 7ª arte, e vale muito a pena a espera por cada um de seus novos projetos.

Abraços

Cristiano Contreiras disse...

Uma obra prima que jamais esquecerei.

Mas, prefiro, ainda, Kill Bill!

Thiago, você tem msn?

aguardo resposta.

Mateus Souza disse...

Adorei Bastardos Inglórios, Tarantino está bem mais maduro, leva a trama no seu estilo, sem precisar vomitar referências pop a todo instante.

Mas concordo com o Jardel e a Amanda, Cães de Aluguel ainda é meu preferido. Ah, também acho que foi o grande injustiçado do Oscar.

Abraço.

thicarvalho disse...

Nekas concordo plenamente. 2009 foi um ano excelente né, repleto de filmes ótimos que superaram todas as expectativas. Por enquanto 2010 segue apenas razoável... Grande abraço.

Tem a cara de Tarantino sem dúvidas. Mas enxerguei um primor técnico maior do que o de costume, até por isto considerei um dos melhores filmes dele, pelo fato de ser completo. Abraços.

Amanda sem dúvidas ele dá aula mesmo. Considero um dos mais criativos da atualidade, assim como Bastardos um dos mais criativos desta década. Qnto a cães de aluguel, é um dos únicos filmes que não vi do diretor. Espero vê-lo em breve. Grande abraço.

Jardel não escrevi sobre esta cena para não tirar a graça, mas ela é realmente sensacional. Aliás, os últimos 40 min de filme está entre os melhores já pude ver. Acho q só perde para o tenso O Home que sabia demais, de Alfred Hitchicock. Sem dúvida um projeto GENIAL. Grande abraço Jardel.

Cristiano já assisit Kill Bill, e apesar de ser um bom filme, não me empolguei tanto qnt mtos falaram. Mas ainda sim é um bom filme. Qnt ao Msn, e só ir na guia contatos pára pega-lo. Alia´s, qualquer um que estiver afim de bater um papo é só adicionar. Grande abraço Cristiano.

Matheus penso da mesma forma q vc. É o filme mais completo de Tarantino, com criatividade e beleza impar. Concordo q tenha sido injustiçado, mas ainda achoq Guerra ao Terror mereceu vencer o Oscar. Acho q Up, Bastardos, Guerrao ao terror e Avatar poderiam ter vencido. Venceu aquele que mais agrada a academia. Grande abraço e valeu pela visita.