Do alto dos seus 30 anos, a
radiante Emma Stone já pode ser considerada uma das atrizes mais bem-sucedidas
de Hollywood na atualidade. Em pouquíssimo tempo, ela construiu uma filmografia
de respeito, indo das suas moderninhas comédias ‘teens’ a papéis mais
desafiadores com enorme naturalidade. Uma construção de carreira exemplar que
alcança um novo patamar com A Favorita (leia a nossa opinião aqui). Na pele de
uma “plebeia” ambiciosa disposta a tudo para se aproximar de uma fragilizada
rainha, Stone entrega uma das melhores performances da sua vida, um trabalho
singular que se torna um dos grandes diferenciais da obra de Yorgos Lanthimos.
Por mais que, verdade seja dita, eu não goste da ideia de fazer um Top 10 com
realizadores tão jovens (e que tem muito a oferecer ainda), acho que Emma Stone
já fez por merecer esta reverência. Dito isso, confira a nossa lista com dez
dos melhores filmes desta adorável atriz.
10º Magia ao Luar (2014)
Gostem ou não, Woody Allen é uma
das grandes referências do cinema americano. E só trabalha com ele que tem
muito a oferecer. Acostumado a tirar do papel grandes personagens femininas, o
aclamado realizador encontrou no carisma descolado de Emma Stone a força motora
do subestimado Magia ao Luar. Num dos seus trabalhos recentes mais cativantes,
Allen deu a jovem atriz a oportunidade de viver uma médium pouco confiável que
decide usar o seu charme quando um respeitado caçador de mitos decide investigar
a raiz dos seus poderes. Como se não bastasse o esperto ‘plot’ investigativo, o
competente elenco de apoio e o agradável tempo de comédia da obra, Allen aprontou
das suas ao reunir Emma Stone e o sempre expressivo Colin Firth num casal que deu
liga em tela. Esbanjando química em cena, os dois conseguem extrair o máximo da
inusitada dinâmica por trás desta relação, brincando com o jogo de gato e rato
proposto pelo roteiro ao revigorar o clichê do “os opostos se atraem”. Leve,
divertido e inocente, Magia ao Luar é uma obra descomplicada que não merecia
cair no limbo dos filmes do Woody Allen menos inspirados. Tem muita coisa legal
aqui, incluindo, claro, o adorável clímax.
9º Super Bad: É Hoje (2007)
Talvez o último grande expoente
do besteirol norte-americano, Super Bad revelou muita gente boa para Hollywood.
Jonah Hill, Michael Cera e (claro!) Emma Stone. Mesmo num papel secundário, o
descolado interesse amoroso do atrapalhado protagonista, a então jovem ruivinha
roubou a cena sempre que estava nela, permitindo que o público pudesse
compreender o efeito que ela causava no seu pretendente. É legal ver, aliás,
como o longa dirigido por Greg Mottola é cuidadoso ao romper com alguns dos
clichês do segmento quanto a representação do feminino. O que faz ainda mais
sentido quando nos deparamos com a figura independente de Stone. Embora o foco
esteja nas impagáveis desventuras de dois amigos na última noitada juntos antes
do começo das férias que viria a definir as suas respectivas vidas, o “bromântico”
longa sobrou na turma ao explorar este clássico arquétipo, dando a promissora
atriz os ingredientes que ela precisava para brilhar e construir uma personagem
que viria a moldar a sua imagem inicial em Hollywood. Um belo cartão de visitas
numa das grandes comédias produzidas na última década.
8º Zumbilândia (2009)
Um dos filmes de zumbi mais
divertidos já realizados, Zumbilândia reoxigenou o segmento ao colocar um grupo
de jovens e um excêntrico homem na mira de criaturas sedentas por carne e
sangue. Logo na fantástica cena de abertura, ao som de Metallica, o diretor
Ruben Fleischer mostrou que iria entregar algo verdadeiramente novo, uma
mistura irresistível de Horror e Comédia potencializado pelo fantástico elenco.
Com diálogos impagáveis, situações cômicas dignas de aplausos e uma incrível
participação especial, o realizador entrega uma obra imprevisível, conduzida
com dinamismo pelo trio Jesse Eisenberg, Woody Harrelson e Emma Stone. O
primeiro na pele de um antissocial que por isso sobreviveu ao apocalipse, o
segundo na pele de um veterano insano capaz de tudo para conseguir um bolinho e
a terceira na pele de uma ardilosa sobrevivente que já antes da invasão zumbi
tinha que arriscar para conseguir o seu sustento. Com um entrosamento invejável,
o trio parece se divertir a todo momento no ‘mise en scene’ proposto por
Fleischer, conseguindo transitar habilmente entre gêneros contrastantes sem
nunca sacrificar o clima de perigo iminente. O resultado é um sucesso de
público e crítica que, ainda hoje, gera um frisson no público quando alguma
notícia em torno da aguardada continuação ganha forma.
7º A Favorita (2019)
Disposta a embarcar em tipos mais
complexos e desafiadoras, Emma Stone desfilou todo o seu magnetismo no ácido A
Favorita. Sob a batuta cínica de Yorgos Lanthimos, o longa co-estrelado por
Olivia Colman e Rachel Weisz causa um misto de sensações ao narrar a perigosa “guerra
fria” entre duas mulheres de classes sociais distintas pela confiança de uma
fragilizada rainha da Inglaterra. A partir deste implacável jogo de gato e rato
pela corte vitoriana, o realizador grego invade o terreno da sátira ao refletir
sobre a inglória busca de três mulheres por empoderamento, rindo da nobreza e
em especial do arquétipo masculino ao se encantar pela agressiva força feminina
das suas personagens. No centro da trama do primeiro ao último minuto de
projeção, Colman, Weisz e Stone protagonizam uma relação tóxica movida pela
ambição, pela carência e (sim) pelo afeto, um arco recheado de nuances que
atinge o seu ápice no momento em que as “preferidas” da rainha entram em rota
de colisão. E mesmo diante de duas atrizes bem mais experientes, Emma Stone não
titubeia por um segundo sequer ao interiorizar os conflitos da sua ardilosa
personagem, uma jovem mulher movida pela ambição e pelo perigoso desejo de ser
a favorita. Um filme provocador que, mesmo diante da queda ritmo no terço
final, impressiona pelo requinte estético e narrativo.
6º A Guerra dos Sexos (2018)
Um daqueles filmes (infelizmente)
urgentes, A Guerra dos Sexos deu a Emma Stone a oportunidade (eu diria a
missão) de interpretar uma das grandes vozes do movimento feminista na década
de 1970, a tenista Billie Jean King. Inspirado numa incrível história real, o
longa dirigido pela dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris é enfático ao
desvendar o machismo enraizado na sociedade norte-americana sob uma perspectiva
densa e ao mesmo tempo dinâmica. Embora peque pelo maniqueísmo em alguns
momentos, principalmente quando o assunto são as figuras da tenista Margaret
Court e do comentarista Jack Kramer, o realizador compensa ao se debruçar com
afinco na raiz do problema, indo além do circo midiático ao se preocupar em
investigar o estado de espírito dos personagens. Em torná-los tipos humanos, como
eu ou você, envolvidos em algo muito maior que eles poderiam imaginar. Enquanto
o falastrão Bobby Riggs vivido por Steve Carrel surge como um mero peão, um
homem com problemas pessoais que decide fazer coro ao discurso patriarcal
anti-igualitário apenas para faturar mais um, a destemida Billie Jean de Emma
Stone surge nitidamente acuada por seus sentimentos, pela opressão masculina e
principalmente pela sua posição enquanto voz de um movimento tão importante. Um
arco dramático encarado com enorme maturidade pela jovem atriz. Mesmo mais
jovem que a tenista, Stone interioriza o misto de emoções da sua personagem com
louvor, explodindo em tela seja com a sua face intrépida e resiliente, seja nos
momentos de maior fragilidade e pressão. Sem querer revelar muito, é legal ver
o cuidado do longa em investigar também os dilemas amorosos da tenista, uma
superatleta lésbica consciente que um passo em falso poderia representar o fim
da sua carreira. Contundente ao dar voz ao discurso machista da época, que
surge em tela, inclusive, com depoimentos reais de grandes nomes do
entretenimento e do esporte, A Guerra dos Sexos atinge o seu ápice no momento
em que King e Riggs pisam em quadra. Fazendo um primoroso uso dos dublês, que,
bem “escondidos”, conferem uma incrível dose de realismo ao jogo em si, só aqui
Dayton e Faris se sentem obrigados a reverenciar os feitos desta inabalável
tenista, levantando uma preciosa bandeira em prol da igualdade dentro do
empolgante clímax. Contando ainda com marcantes coadjuvantes, Alan Cumming,
Elisabeth Shue e Sarah Silverman roubam a cena sempre em que estão nela, A
Guerra dos Sexos comove e inspira ao usar uma comentada partida de tênis como o
ponto de partida para a construção de um drama crítico e indiscutivelmente
atual. Em pensar que, ainda hoje, atletas, artistas e pessoas comuns seguem
sentindo na pele o peso da desigualdade de gêneros e do preconceito.
5º A Mentira (2010)
O filme que elevou a carreira de
Emma Stone a um novo patamar, A Mentira mostrou que a jovem atriz era capaz
também de brilhar em voos solo. Com uma personagem feita à sua medida, o
diretor Will Gluck reoxigenou as comédias ‘high-school’ ao entregar uma obra
irônica e inteligente. Numa mistura de A Letra Escarlate, com Meninas Malvadas
e Namorada de Aluguel, o longa conquistou uma legião de fãs ao narrar as
desventuras de uma jovem descolada que, para ajudar um amigo gay, decide
simular com ele uma noite de amor. O tiro, porém, sai pela culatra quando o
segredo se espalha pelos corredores da escola, a transformando num alvo para
outros jovens desesperados para construir uma imagem de “pegador”. Com
estrutura narrativa dinâmica, um constante flerte com o viés satírico e
personagens engraçados, Gluck acertou em cheio ao invadir o gênero sob uma
perspectiva genuinamente feminina, dando voz a uma garota que, ao invés de se
esconder, fugir da perseguição e do bullying, decide encarar de frente, de
peito aberto. Uma proposta atual incrementada pela radiante presença de Emma
Stone. No centro dos holofotes, ela desfilou o seu carisma ao interpretar uma
jovem criativa, esperta e irreverente, alguém disposta a contornar as suas
fragilidades para desafiar o tóxico ‘status quo’ que a cercava. A câmera, na
verdade, parece verdadeira apaixonada pela figura de Stone, o que só explica o
grau de magnetismo em torno de A Mentira.
4º Birdman (2014)
Sob a virtuosa batuta de
Alejandro G. Iñarritu, Birdman é o tipo de filme que mereceria elogios somente
pela sua ousadia. Um filme ácido sobre os vícios da indústria, da crítica e da
classe artística rodado praticamente em planos sequências e com um exótico subtexto
super-heroico. Uma obra pretensiosa que poderia facilmente ser detonada, até
porque, a rigor, a sua mensagem nem era tão inovadora assim. O rigor estético\narrativo
do realizador mexicano, entretanto, conferiu ao longa uma aura instigante que
merecidamente transformou Birdman num dos grandes filmes sobre o mundo do
showbiz dos últimos anos. Quiçá das últimas décadas. Além de resgatar um
esquecido Michael Keaton, que, numa performance explosiva, voltou aos holofotes
ao – paradoxalmente – interpretar um ator às avessas com o ostracismo, o longa não
poupou ninguém ao destilar a sua venenosa crítica contra a face mais
egocêntrica de Hollywood, testando as nossas expectativas num estudo de
personagem complexo e reflexivo. Uma das peças mais humanas do enérgico
tabuleiro de Iñarritu, Stone roubou a cena na pele da expansiva filha do
protagonista, uma jovem de passado turbulento disposta a desafiar o seu pai
para se reconectar com o homem por trás do artista. Mesmo em poucas cenas, ela
deixou a sua marca no longa, culminando numa indicação ao Oscar de Melhor Atriz
Coadjuvante. Mais do que justa.
3º Amor a Toda Prova (2011)
Uma das minhas comédias
românticas favoritas, Amor a Toda Prova é um filme irresistível. Gostem ou não
do gênero, é muito difícil não se afeiçoar pelos personagens, seus
reconhecíveis conflitos e pelo cômico rumo que a trama toma. Dirigido pela
dupla de Glenn Ficarra e John Requa, que hoje tocam o barco da aclamada
série This Is Us, o cativante longa envolve e surpreende ao acompanhar as
desventuras amorosas de personagens distintos unidos pela carência e pelo
acaso. Sem recorrer aos vícios das produções com múltiplos personagens, chama a
atenção o dinamismo da dupla em fazer com que ambas as histórias avancem
simultaneamente, brincando com as nossas expectativas ao ora e vez
entrelaça-las sem que nem pudéssemos desconfiar. Um predicado valorizado pelo
sagaz roteiro que, mesmo sem reinventar a roda, prega as suas peças com leveza
e extremo bom humor. É indiscutível, porém, que o charme de Crazy, Stupid, Love
(que título maravilhoso) reside no fantástico elenco. Reúna Ryan Gosling, Emma
Stone, Steve Carrel, Marisa Tomei, Juliane Moore e Kevin Bacon e a chance de
sucesso do longa será enorme. Com personagens de diferentes faixas etárias, mas
problemas semelhantes, Ficarra e Requa extrai o máximo deste timaço na
construção de instigante um vai e vem romântico, culminando num desfecho
genuinamente surpreendente. Não pelo rumo da trama, mas pela forma como as
peças se encaixam harmoniosamente.
2º Histórias Cruzadas (2011)
Antes que movimentos como o Oscar
So White e o #MeToo ganhassem forma em Hollywood, Histórias Cruzadas reuniu um
elenco fantástico para narrar as desventuras de babás negras numa américa
preconceituosa e segregadora. Como eu escrevi acima, é difícil errar com um
elenco formado por nomes como os de Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer,
Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Allison Janey e Sissy Spacek. Muito
difícil. Consciente disso, o bem-intencionado diretor Tate Taylor nada mais fez
do que estender o seu tapete vermelho para elas, extraindo o máximo do drama
contido nos desconcertantes relatos inspirado em fatos numa proposta densa e
agridoce. Transitando com brilhantismo entre o drama e a comédia, ele mostrou
maturidade de gente grande ao rir sem sacrificar o peso das lágrimas,
subdividindo a trama em arcos ora inspiradores e\ou engraçados, ora tristes
e\ou desoladores. E isso sem, necessariamente, escolher protagonistas. Embora a
radiante Emma Stone surja como a interlocutora da história, uma mulher com uma
visão de mundo moderna incapaz de compactuar com a realidade racial da sua
pequena cidade, Taylor não titubeia em torna-la sempre que necessário uma
simples porta-voz. É só através dela, infelizmente uma realidade da época, que
aquelas mulheres babás poderiam ganhar uma voz. Algo que além de fazer todo
sentido dentro do contexto proposto pelo filme, é muito bem explorado pelo
argumento. Todo o ‘background’ envolvendo a culpa da mãe da protagonista, por
exemplo, mostra o quão complexa pode ser a questão do preconceito racial, surgindo
como um bem-vindo contraponto ao maniqueísmo de algumas outras personagens
brancas. O show, porém, é da dupla Davis e Spencer, graças tanto ao enorme
talento das duas, quanto a capacidade de Taylor em gradativamente
transformá-las nas verdadeiras protagonistas do longa. Afinal de contas, o
foco, aqui, não está em que escreveu as histórias, mas em quem as viveu, algo
que faz de Histórias Cruzadas um filme ainda hoje indispensável. Como é bom,
entretanto, poder ver realizadores negros podendo contar as suas próprias
histórias, ganhando o espaço e a voz que, infelizmente, muitas mulheres e
homens não tinham nas décadas de 1950 e 1960.
1º La La Land (2016)
O primeiro lugar, porém, não
poderia ser de outro filme senão La La Land: Cantando Estações. Um musical
revigorante pensado para os tempos difíceis que vivemos, o fascinante longa
dirigido pelo prodígio Damien Chazelle conquistou o público e a crítica ao
narrar as idas e vindas de um casal de sonhadores em busca do tão cobiçado
final feliz. Com números musicais encantadores, uma visão calorosa sobre Los
Angeles e algumas sequências dignas de aplausos entusiasmados, vide a magnífica
cena de abertura, o romance encontra na dupla Ryan Goslin e Emma Stone o coração
necessário para dar sustento a esta visualmente irretocável obra. Mesmo diante
do tamanho ‘hype’ criado em torno do lançamento do filme, é praticamente
impossível não se apaixonar pela dupla. Não torcer por eles, não se comover com
eles, não chorar por eles. Apesar da estética musical, Chazelle instiga ao
trazer a realidade para este gênero otimista por natureza, estabelecendo pouco
a pouco o destino da dupla enquanto investiga os seus respectivos anseios,
sonhos e desilusões. O resultado é uma produção (gostem ou não) memorável, um
filme que, impulsionado pela extraordinária química do casal Goslyng\Stone,
faturou estrondoso US$ 446 mi ao redor do mundo. Além disso, La La Land teve um
triunfante desempenho também na temporada de premiações, dando a Emma Stone o
seu primeiro Oscar de Melhor Atriz. E isso na sua segunda indicação ao prêmio.
Menções Honrosas: Caça aos
Gangsters (2013) e O Homem Irracional (2015).
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