O horror ganhou forma nas sombras. Na distorção visual anti-classicista dos expressionistas. Na decrepitude proposta em pérolas como Nosferatu, Frankenstein e A Múmia. Na insinuação da brutalidade em títulos como Drácula, O Lobisomem e O Horror do Drácula. Na sinistra construção de atmosfera em filmes como O Gabinete do Dr° Caligari, O Solar Maldito e Vampiros de Almas. O horror, até aqui, estava muito associado ao grotesco. Imagina você, em 1964, ver um filme que, na contramão do que era produzido até então, resolveu trazer o "belo" para o terror. Assim nasceu o cinema de Giallo. Graças a hits influentes como Seis Mulheres para um Assassino.
O longa dirigido por Mario Bava misturou tudo o que era feito no gênero até então numa experiência peculiar. A fusão perfeita do refinamento clássico dos filmes de monstro da Universal com o vigor estético das produções Hammer. Da relação entre luz e sombras proposta pelo Expressionismo Alemão com a falta de acabamento narrativo dos filmes B de Ed Wood. Uma espécie de avô dos 'slashers movies', o filme trouxe uma cara nova ao segmento ao investir pesado no uso de cores primárias. No vigor que potencializava tanto a violência, quanto o erotismo impresso em tela. O choque deixou de depender exclusivamente do "monstro", aqui um assassino sem face, para ser associado ao belo. Ou melhor, a morte da beleza.
A tensão nasce da luta pela sobrevivência. O terror invade a tela no que eu chamo de "faces da morte". Mario Bava ajudou a trazer o horror para a realidade ao entender que o desespero de um (belo) rosto sem vida poderia ser mais chocante do que qualquer monstro decrépito. A beleza em Seis Mulheres para o Assassino, porém, não está somente associada ao feminino. O diretor provoca ao usar o cenário aristocrático da alta costura italiana para extrair a plasticidade da violência. Uma história de inveja sem qualquer brilho narrativo é redimensionada graças à forma com que ele filma a brutalidade com um vigor estético que flerta com o sadismo. A fotografia em tons cintilantes protege o assassino criando sequências imageticamente tensas. A direção de arte transita entre o classicismo e o modernismo ao construir o cenário para o jogo de gato e rato proposto. Bava pensa o choque a partir daquilo que não necessariamente esperávamos ver no gênero.
Um dos precursores do Giallo italiano, Seis mulheres para o Assassino revitalizou a forma de se arquitetar o horror ao retratar a sujeira do mundo real com uma exuberância estética morbidamente fascinante. É trash? É! É refinado? Também! É Giallo na veia.
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