quinta-feira, 22 de julho de 2021

Crítica | Godzilla vs Kong

Imagem vs texto

Tudo o que Godzilla vs Kong precisava era um fiapo de trama que justificasse o aguardado embate entre titãs. Dito e feito. Esqueça o sisudo viés científico\ambientalista do longa anterior. Esqueça também qualquer lógica narrativa. Quando centraliza a ação na treta entre as gigantescas feras, o longa dirigido por Adam Wingard entrega tudo aquilo que esperávamos assistir de uma obra deste porte. Estamos diante de uma continuação consciente das suas limitações. A desculpa para o embate não poderia ser mais animalesca. Apenas um titã poderia viver. Logo na criativa montagem dos créditos iniciais, o realizador, da forma mais didaticamente intuitiva, estabelece rixa no melhor estilo chaveamento de Copa do Mundo. Godzilla derrotou o King Gidorah. Kong uns tiranossauros genéricos. O roteiro assinado a seis mãos entra em bizarras contradições sem culpa. 

O plot em si nasce de uma delas. Temendo o destino de Kong numa possível luta contra o feroz Godzilla, a zelosa protetora Illene (Rebecca Hall) admite que o nosso querido macacão seria facilmente rastreado fora da instalação que o protegia. Quinze minutos depois, ela, convencida pelo cientista genérico da vez (Alexander Skarsgard), resolve colocar Kong em alto mar numa expedição para encontrar uma fonte de energia no centro da Terra. Em ALTO MAR. O lugar em que o Godzilla ganharia qualquer embate num piscar de olhos. Esse é o nível de preocupação do roteiro. E quem se importa. Em Godzilla vs Kong qualquer solução equivocada merece ser atenuada quando dela nasce o confronto entre os titãs. É isso que o público queria ver. É isso que o longa entrega. Adam Wingard traz a luz para o confronto. Traz cores. Traz ousados movimentos de câmera. Ele estiliza a ação pensando no potencial imagético da obra e na nossa diversão. O “balé” proposto nas plásticas cenas de luta é impressionante. O cineasta não perde a oportunidade de brincar com a noção de escala. Os embates aqui acontecem em metrópoles. 

Quem se importa com o dano colateral. Eu quero ver é prédio sendo destruído. É avião virar arma. Os humanos são o problema. Eles sempre são o problema. Na comparação com O Rei dos Monstros, Godzilla vs Kong é bem melhor resolvido no que diz respeito ao núcleo homo sapiens. Com exceção do irritante trio interpretado por Millie Bobby Brown, Julian Dennison e Bryan Tyree Henry, os demais personagens estão a serviço do macro. Embora dedique um tempo demasiado a busca do mcguffin da vez, Wingard adota a aventura ao flertar com a releitura de Viagem ao Centro da Terra protagonizado por um primata gigantesco. Confesso, inclusive, que a relação de amizade entre Kong e a pequena Jia (Kaylee Hotle), apesar de totalmente aleatória, é bem bonitinha. Ainda assim, o núcleo humano é grande demais. É inchado demais. É dispensável demais. Nem o antecipável plot twist justificaria o tempo dedicado a eles. Imagético e descerebrado, Godzilla Vs Kong confia no seu instinto animalesco ao priorizar o visual em detrimento da narrativa. O que, pasmem, reacende uma velha rixa entre os fãs de cinema: imagem vs texto. Gostar ou não gostar desta experiência passa pelo lado que você escolheria neste embate filosófico.

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