quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Lista da Forbes expõe o abismo salarial entre os atores e as atrizes de Hollywood em 2017


Num ano em que títulos como A Bela e a Fera e Mulher-Maravilha despontaram entre os mais rentáveis representantes do universo blockbuster, a respeitada Revista Forbes causou um choque de realidade ao mostrar que a luta pela igualdade salarial entre os gêneros em Hollywood ainda é um problema. E daqueles espinhosos. Na sua tradicional lista anual com os atores e atrizes mais bem pagos do ano, a publicação revelou o aumento na distância entre os salários de homem e mulheres durante o segundo semestre de 2016 e o primeiro semestre de 2017. Indo de encontro ao resultado dos últimos anos, enquanto Mark Wahlberg (Transformers: O Último Cavaleiro, O Dia do Atentado e Pai em Dose Dupla 2) liderou a lista masculina com expressivos US$ 68 milhões em arrecadação, a vencedora do Oscar Emma Stone (La La Land, Batalha dos Sexos) assumiu o topo do ranking feminino com modestos US$ 26 milhões, uma diferença de US$ 42 milhões entre atores e atrizes. Coincidências à parte, o fato é que desde 2011 essa distância não se revelava tão desigual. Naquele ano, enquanto o astro Leonardo DiCaprio liderou a lista da Forbes com US$ 77 milhões em vencimentos, a popular Angelina Jolie se tornou a atriz mais bem paga do mundo com US$ 30 milhões, uma estrondosa discrepância de US$ 47 milhões.



Lider do ranking feminino, Emma Stone não estaria nem entre os dez maiores salários masculinos em 2017
A lista, porém, revela um dado ainda mais alarmante. Embora o bastante para coloca-la no topo da lista feminina, os US$ 26 milhões conseguidos por Emma Stone não seriam suficientes para que ela sequer figurasse entre os dez maiores salários do ranking masculino. Na verdade, seguindo os números da Forbes, o ator indiano Akshay Kumar fechou o Top 10 com US$ 35,5 milhões em salários, um valor bem superior ao recebido por uma das atrizes da nova geração mais queridas de Hollywood. A rigor, Stone seria apenas a 15ª da lista, logo atrás do seu parceiro de La La Land, o astro Ryan Gosling, que no mesmo período somou US$ 29 milhões. Num todo, aliás, enquanto os dez homens mais bem remunerados de Hollywood conseguiram, juntos, US$ 488,5 milhões, as dez mulheres ficaram muito atrás com US$ 172,5 milhões, um valor bem abaixo dos US$ 205 milhões conseguidos em 2016 e dos US$ 218 milhões em 2015. Uma disparidade realmente emblemática. Por mais que nos últimos anos o equilíbrio salarial entre os líderes dos rankings fosse mais perceptível, em 2016 e 2015, por exemplo, a diferença os mais bem pagos foi de, respectivamente, US$ 22 milhões (US$ 64 mi de Dwayne Johnson contra os US$ 46 mi de Jennifer Lawrence) e US$ 28 milhões (US$ 80 mi de Robert Downey Jr. contra os US$ 52 mi de Jennifer Lawrence), a questão é que a igualdade salarial entre os gêneros ainda é um tabu em Hollywood. Segundo os analistas da Forbes, a diferença no faturamento entre astros e estrelas em 2017 se deve basicamente a predominância de filmes\franquias de super-herói e de ação, a maior parte delas protagonizadas por homens. 


É aqui, aliás, que chegamos ao cerne da questão. Numa análise mais profunda da lista, percebemos que a Forbes tem razão ao creditar esta disparidade salarial ao "apreço" dos grandes estúdios pelo protagonismo masculino. Nomes como Mark Wahlberg, Vin Diesel, Tom Cruise e Dwayne Johnsson, por exemplo, alcançaram o topo da lista com dois, três blockbusters, filmes milionários do porte de Velozes e Furiosos 8 (US$ 250 milhões de orçamento), Transformers: O Último Cavaleiro (US$ 217 milhões), A Múmia (US$ 125 milhões) e Guardiões da Galáxia Vol. 2 (US$ 200 milhões). Nesse meio tempo, à critério de comparação, Emma Stone estrelou "apenas" La La Land (US$ 30 milhões) e o ainda inédito A Batalha dos Sexos, um fato semelhante ao acontecido com Jennifer Lawrence (Passageiros e o inédito Mãe!) e Jennifer Aniston (A Última Ressaca do Ano). Uma constatação que, infelizmente, expõe o grande problema por trás desta discrepância: a falta de relevância feminina dentro do universo blockbuster. Embora cada vez mais presentes no segmento, vide o sucesso de títulos como Star Wars: O Despertar da Força, Mad Max: Estrada da Fúria e a saga Jogos Vorazes, as atrizes seguem esbarrando nesta barreira "invisível", ganhando em sua maioria papéis secundários nos longas citados acima. 


Segundo um estudo divulgado pela própria Revista Forbes, as personagens femininas preencheram apenas 28,7% de todos os papéis falantes lançados pelas grandes empresas norte-americanas* em 2016, o pior índice entre as produções via Streaming (38,1%), Cabo (37,3%) e as Emissoras Abertas (36,4%). Responsável pelo artigo "Por que ganho menos que colegas homens?", publicado em 2015 após uma série de vazamentos de e-mail da Sony, Jennifer Lawrence disse, em entrevista ao site Estadão, que o cenário pouco mudou desde então. "Acho que nada mudou ainda. Escrever me ajudou muito, pude colocar para fora o que estava pensando e sentindo. A principal questão é: estava tão preocupada que alguém não ia gostar de mim ou me chamar de garota mimada, que não estava agindo como gostaria. Como posso deixar esse medo bobo atrapalhar minha carreira, minha vida? Ainda preciso lutar por isso, ninguém quer oferecer uma quantidade de dinheiro justa. E isso vale para todos, homens inclusive. Não se pode aceitar a primeira oferta.", revelou a atriz que, logo após o sucesso comercial de Trapaça (2014), descobriu que recebeu uma porcentagem menor dos lucros em relação aos seus parceiros de set Christian Bale, Jeremy Renner e Bradley Cooper. Quem também viveu situação semelhante foi a talentosa Natalie Portman. Indicada ao Oscar pela sua performance no íntimo Jackie, a versátil atriz lembrou, em entrevista à revista Marie Claire, da sua reação ao saber que iria receber menos do que o seu par romântico, o popular Ashton Kutcher, na comédia Sexo sem Compromisso (2011). "Eu sabia disso e eu aceitei, porque tem essa coisa com ‘rentabilidade’ em Hollywood… a dele era três vezes superior à minha na época, então disseram que ele deveria ganhar três vezes mais. Eu não fiquei tão chateada quanto deveria. Quer dizer, nós recebemos muito dinheiro, então é difícil reclamar, mas a disparidade é gigante. (...) Comparadas com os homens, na maioria das profissões, as mulheres ganham 80 centavos por dólar. Em Hollywood, nós ganhamos 30 centavos por dólar”, concluiu a atriz numa declaração contundente. 


Curiosamente, entretanto, no mesmo ano em que a disparidade salarial entre atores e atrizes alcançou um nível alarmante, surgem sucessos "femininos" do porte de A Bela e a Fera e Mulher-Maravilha. Maior bilheteria do ano até o momento, o nostálgico remake da Disney estrelado por Emma Watson faturou expressivos US$ 1,262 bi ao redor do mundo, se tornando o primeiro sucesso de público da engajada atriz na fase pós-Harry Potter. Embora tenha recebido um salário bem abaixo da média masculina num filme deste porte, cerca de US$ 3 milhões, Watson colheu os frutos do triunfo comercial do longa e fechou a temporada com US$ 14 milhões em faturamento. O caso de Mulher-Maravilha, porém, é ainda mais emblemático. Além de colocar um fim no tabu envolvendo o insucesso dos blockbusters estrelados por mulheres, vide o recente fracasso comercial dos subestimados Caça-Fantasmas e Ghost in The Shell, o longa estrelado por Gal Gadot se tornou o filme de maior bilheteria da história dirigido por uma mulher ao faturar fantásticos US$ 800 milhões mundialmente, revitalizando o novo (e claudicante) Universo Cinematográfico da DC. A mulher por trás do sucesso, Patty Jenkins falou em diversidade e defendeu a presença feminina neste tipo de projeto. “Eu não me identificava com aquilo. Precisamos de mais projetos com diversidade e precisamos incentivar a ideia de que qualquer um pode ser um personagem universal. Se um carro ou uma tartaruga podem ser um personagem universal, então uma mulher obviamente também pode ser, e pessoas de diferentes etnias e origens também podem. Essas histórias podem ser ligeiramente diferentes [do que estamos acostumados], e temos que dar espaço para elas”. frisou a diretora à revista Vanity Fair. O fato é que, entre incertezas e desconfianças, Mulher-Maravilha conseguiu uma arrecadação superior aos gigantescos Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (US$ 789 milhões), Transformers: O Último Cavaleiro (US$ 601 milhões) e a A Múmia (US$ 405 milhões). Números que, aliás, podem significar um alento na luta das mulheres pela equiparação salarial na indústria do entretenimento, já que, em Hollywood, contra o lucro não existem argumentos. E o êxito de Mulher-Maravilha é inquestionável. Confira abaixo a lista da Forbes com os atores e as atrizes mais bem pagos do mundo em 2017. 

Homens

1º Mark Wahlberg, US$ 68 milhões
2º Dwayne “The Rock” Johnson, US$ 65 milhões
3º Vin Diesel, US$ 54.5 milhões
4º Adam Sandler, US$ 50.5 milhões
5º Jackie Chan, US$ 49 milhões
6º Robert Downey, Jr., US$ 48 milhões
7º Tom Cruise, US$ 43 milhões
8º Shah Rukh Khan, US$ 38 milhões
9º Salman Khan, US$ 37 milhões
10º Akshay Kumar, US$ 35.5 milhões

Mulheres

1º Emma Stone, US$ 26 milhões
2º  Jennifer Aniston, US$ 25,5 milhões
3º Jennifer Lawrence, US$ 24 milhões
4º Melissa McCarthy, US$ 18 milhões
5º Mila Kunis, US$ 15,5 milhões
6º Charlize Theron, US$ 14 milhões
7º Emma Watson - US$ 14 milhões
8º Julia Roberts, US$ 12 milhões
9º Cate Blanchett, US$ 12 milhões
10º Amy Adams, US$ 11,5 milhões

* 21st Century Fox, CBS, Comcast NBC Universal, Sony, The Walt Disney Company, Time Warner, Viacom, Amazon, Hulu e Netflix.

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6 comentários:

The Crow disse...

...traduzindo todo o texto:
"...mi mi mi mi mi mi mi... mulheres ganham menos... mi mi mi mi mi mi mi mi mi..."
Pronto... nada de útil só mimimi ideológico.

Só pra esclarecer... em um mundo capitalista, o seu ganho é ligado a quanto vc gera de retorno.
Quer ganhar mais? ...traga mais lucro.

thicarvalho disse...

Discurso incoerente o seu. Até porque, seguindo a sua lógica, Emma Watson e Gal Gadot deveriam estar entre os maiores salários do ano, já que A Bela e a Fera e Mulher-Maravilha estão entre os filmes mais lucrativos de 2017. Isso não tem nada de mimimi. Isso é um fato. Infelizmente.

thicarvalho disse...

Agora, é importante frisar que você não está totalmente errado. O lucro move a indústria. Ai entra a questão da oportunidade. Como disse no fim do texto, filmes lucrativos como Mulher-Maravilha, A Bela e a Fera podem ajudar a equilibrar as coisas. Valeu pela visita.

Anônimo disse...

Parabéns "The Crow"! Ótima análise. Esse mimimi enche o saco... Trabalhe, faça melhor e ai sim ganhe mais! A regra é clara.

Unknown disse...

É período , já ouve época que a Julia Robert estava no topo.

thicarvalho disse...

Indiscutivelmente. Recentemente mesmo Maxylove, a Jennifer Lawrence faturou pouco menos que o líder da lista masculina. O que espantou, aqui, foi a distância entre a realidade salarial das duas listas. Valeu pela visita.